Questões-Chave:
EUA impõem tarifas de 30% sobre importações da África do Sul, afectando duramente as exportações;
Ramaphosa e Trump mantêm contacto telefónico para relançar negociações comerciais;
Relações bilaterais tensas devido à política interna sul-africana e às posições internacionais de Pretória;
Até 100 mil empregos poderão estar em risco segundo o banco central sul-africano;
África do Sul mantém firme a sua agenda de transformação racial e social.
A imposição de tarifas de 30% sobre as exportações sul-africanas para os Estados Unidos — as mais elevadas aplicadas a qualquer país da África Subsaariana — marca uma nova fase de tensão nas relações entre Pretória e Washington. Apesar de uma conversa telefónica entre os presidentes Cyril Ramaphosa e Donald Trump, não foi possível evitar o impacto da nova política tarifária norte-americana.
O contacto entre os dois líderes teve lugar na véspera da entrada em vigor do novo regime tarifário dos EUA, numa tentativa tardia de reactivar as negociações de um acordo comercial que está estagnado desde o último encontro presencial entre os presidentes, ocorrido em Maio, na Casa Branca.
“Os dois líderes comprometeram-se a prosseguir com os contactos, reconhecendo a complexidade das negociações comerciais em curso por parte dos Estados Unidos”, referiu a Presidência sul-africana em comunicado.
Os respectivos grupos de negociação comercial continuarão os trabalhos técnicos, mas o ambiente político entre as duas nações deteriorou-se significativamente desde o regresso de Trump ao poder em Janeiro.
Tensões políticas e ideológicas
Além das disputas comerciais, a administração norte-americana tem criticado abertamente políticas internas da África do Sul, como as iniciativas de redressamento das desigualdades raciais herdadas do apartheid, e manifestado desagrado pelas relações próximas de Pretória com países como a Rússia e o Irão. Adicionalmente, o processo judicial intentado pela África do Sul contra Israel — aliado estratégico dos EUA — no contexto da guerra em Gaza agravou o fosso diplomático.
Apesar da pressão, o Governo sul-africano mantém a sua linha política, afirmando que não modificará a sua legislação para acomodar exigências externas.
“A agenda de transformação da África do Sul é inegociável”, declarou a Ministra da Presidência, Khumbuzo Ntshavheni, referindo-se às políticas destinadas a empoderar a população negra excluída durante o apartheid.
Impacto económico e social das tarifas
As consequências económicas da decisão americana já estão a ser modeladas pelas autoridades sul-africanas. O Departamento de Comércio estima a perda de cerca de 30 mil empregos em todos os sectores, enquanto o Banco Central alerta que mais de 100 mil postos de trabalho na indústria automóvel e agrícola poderão ser afectados caso não se alcance um acordo mais favorável.
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p dir=”ltr”>Estas estimativas colocam pressão adicional sobre a equipa negocial sul-africana, num momento em que a economia enfrenta desafios internos significativos, incluindo níveis elevados de desemprego, défice fiscal e pressão inflacionária.
Fonte: O Económico