Resumo
O Banco Mundial alerta para um choque demográfico na África Subsaariana, que precisa de criar 25 milhões de empregos por ano até 2050 para acompanhar o crescimento populacional. A região já enfrenta dificuldades na criação de empregos, com um défice anual de 9 milhões de postos de trabalho. Países como a República Democrática do Congo, Níger, República Centro-Africana, Somália e Angola podem ver a sua população ativa duplicar até 2050, aumentando os riscos de instabilidade. Conflitos, mudanças climáticas e fragilidades fiscais agravam o problema, tornando essencial a implementação de reformas estruturais para evitar uma crise laboral de grandes proporções. O crescimento populacional sem precedentes na região redefine o futuro económico africano, com a África Subsaariana a ser responsável por 90% do crescimento populacional global nas próximas décadas.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Banco Mundial alerta para um choque demográfico sem precedentes e defende reformas profundas para expandir o emprego produtivo e evitar uma crise laboral de grandes proporções.
A África Subsariana terá de criar, em média, 25 milhões de empregos por ano até 2050 para acompanhar o crescimento de mais de 620 milhões de pessoas em idade activa, segundo um relatório recente do Banco Mundial. A instituição alerta que, sem reformas profundas e um novo modelo de crescimento económico, a região poderá enfrentar uma crise de desemprego de grande escala, com impacto directo na estabilidade social e política.
Demografia sem precedentes redefine o futuro económico africano
O Banco Mundial sublinha que a África Subsariana será responsável por 90% do crescimento populacional global nas próximas décadas, um fenómeno sem precedentes na história económica contemporânea. A região já enfrenta dificuldades graves na criação de empregos suficientes: cerca de 12 milhões de jovens entram no mercado laboral todos os anos, mas apenas 3 milhões de postos de trabalho são criados, o que gera um défice estrutural de 9 milhões de empregos anuais.
Este desfasamento crescente alimenta pressões sociais e fragilidades económicas. Países como a República Democrática do Congo, Níger, República Centro-Africana, Somália e Angola podem ver a sua população activa duplicar até 2050, o que amplia os riscos de instabilidade caso não existam reformas estruturais.
Conflitos, clima e fragilidade fiscal agravam o défice de empregos
Para além da pressão demográfica, a região enfrenta factores que comprometem a capacidade de gerar emprego formal e produtivo. Conflitos armados prolongados, choques climáticos recorrentes, secas severas, inundações e instabilidade política criam um ambiente desfavorável ao investimento e à actividade económica. Ao mesmo tempo, as finanças públicas debilitadas limitam o espaço fiscal para políticas activas de emprego e expansão da infraestrutura económica.
Akinwumi Adesina, citado no relatório, resume o alerta da comunidade internacional ao afirmar que, em 2030, apenas 100 milhões de africanos estarão empregados num universo projectado de 450 milhões de pessoas em idade activa. Para o antigo presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, esta tendência representa um risco directo para a estabilidade e para o desenvolvimento económico sustentável.
Novo modelo de crescimento exige empresas médias e grandes
O Banco Mundial defende que o continente deve abandonar o modelo baseado quase exclusivamente em micro-empresas informais, que embora numerosas, oferecem empregos de baixa produtividade e sem qualidade. A instituição sublinha que a criação de emprego produtivo depende da expansão rápida de empresas médias e grandes, com capacidade para gerar economias de escala, adoptar tecnologia, integrar cadeias de valor e criar postos formais.
Esta transformação económica exige melhorias na infraestrutura, maior previsibilidade regulatória, redução do custo de fazer negócios, formação profissional, acesso ao financiamento e instituições mais fortes. O relatório enfatiza que a produtividade africana está bloqueada por milhões de micro-negócios que sobrevivem, mas não crescem, mantendo a economia num ciclo de baixa escala e baixa renda.
Sectores de maior potencial: agricultura transformada, mineração, turismo e serviços
O relatório identifica sectores com maior potencial imediato para gerar emprego em grande escala, como o agribusiness, a mineração, o turismo e os serviços de hospitalidade e proximidade. Estes sectores, pela sua natureza intensiva em mão-de-obra e pela capacidade de integrar cadeias de valor, apresentam condições concretas para absorver boa parte do crescimento da força de trabalho. A expansão dependerá, porém, de melhorias infra-estruturais, de sistemas logísticos eficientes, do acesso a crédito e de políticas públicas orientadas para produtividade.
Da informalidade à formalização: o desafio das micro-empresas
O documento sublinha a necessidade de transformação progressiva das micro-empresas africanas. Embora representem a base da economia, a sua capacidade de gerar empregos de qualidade é reduzida. A experiência da Balloon Ventures, citada como exemplo, demonstra que o financiamento estruturado, aliado a processos formais de contratação e gestão, aumenta a produtividade e fortalece as relações laborais. A formalização — mesmo que gradual — eleva padrões de desempenho, cria estabilidade para trabalhadores e permite escala empresarial.
Desemprego juvenil e instabilidade: o alerta social
O relatório recorda ainda os episódios de violência pós-eleitoral no Quénia, onde entrevistas com jovens envolvidos nos confrontos revelaram factores comuns como desemprego, ausência de oportunidades económicas e frustração social. Para os analistas, esta ligação directa entre desemprego juvenil e instabilidade política reforça a ideia de que a criação de emprego não é apenas uma variável económica, mas também um pilar essencial de paz, segurança e coesão social.
Emprego Como Pilar do Futuro Económico Africano
A África Subsariana encontra-se diante de uma encruzilhada histórica. O dinamismo demográfico pode transformar a região numa das economias mais vibrantes do mundo, mas apenas se for acompanhado por políticas públicas robustas, reformas estruturais e um esforço coordenado para acelerar a transformação produtiva. Criar 25 milhões de empregos por ano não é apenas uma meta económica; é a condição crítica para garantir estabilidade, reduzir desigualdades e sustentar trajectórias de desenvolvimento inclusivo para uma das populações mais jovens do planeta.
Fonte: O Económico






