Resumo
O investimento estrangeiro direto (IED) em África diminuiu 42% no primeiro semestre de 2025, refletindo a fragmentação económica global, taxas de juro elevadas e tensões geopolíticas. Mesmo excluindo um grande projeto de 2024, a região teria registado uma queda de 8%, revelando fragilidades estruturais persistentes. África foi a região mais afetada pela crise global de investimento, contrastando com América Latina e Ásia. A dependência de investimento externo em setores primários e infraestruturas foi prejudicada. Projetos sustentáveis, como energias renováveis, sofreram reduções significativas. A indústria automóvel colapsou 54% em África. Apesar dos desafios, alguns setores mostram resiliência.
A contracção é a mais severa entre todas as regiões em desenvolvimento e reflecte o impacto cumulativo da fragmentação económica mundial, das taxas de juro elevadas e das tensões geopolíticas que afectam os fluxos internacionais de capitais.
Mesmo excluindo um grande projecto pontual realizado em 2024, a região teria registado ainda assim uma queda de 8%, revelando persistentes fragilidades estruturais e dificuldades em transformar compromissos de investimento em projectos executados.
África Entre as Regiões Mais Atingidas pela Crise Global de Investimento
Enquanto o mundo registou uma queda global de 3% nos fluxos de IED, e as economias em desenvolvimento permaneceram estáveis, África destacou-se pela magnitude da quebra, contrastando com a América Latina (+12%) e a Ásia (+7%).
A UNCTAD aponta que o continente continua altamente dependente do investimento externo em sectores primários e de infra-estruturas, ambos duramente atingidos pela actual conjuntura financeira.
Os projectos “greenfield” — novos investimentos anunciados — caíram 5% em número e 76% em valor, enquanto os projectos de financiamento internacional (project finance) diminuíram 3%.
“O ambiente global de investimento permanece desafiante, e África está entre as regiões mais penalizadas pela combinação de riscos financeiros, incerteza política e custos elevados de capital”, adverte o relatório.
Energia Renovável e Infra-estruturas: Queda Acentuada em Projectos Sustentáveis
Os projectos ligados aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como energias renováveis, água e saneamento e infra-estruturas de transporte, sofreram uma redução de 31% em número e 18% em valor, com nenhum novo projecto de água e saneamento registado em África durante os primeiros meses de 2025.
No segmento de energia renovável, o continente observou um recuo de 31% em número e 18% em valor de projectos “greenfield”.
Os projectos de financiamento internacional de energia limpa, responsáveis por dois terços do investimento sustentável global, também caíram 3% em África e nos países menos avançados (PMAs), prolongando a tendência descendente dos últimos dois anos.
Sectores em Recuo: Manufatura, Energia e Indústria Extrativa
O número total de projectos industriais “greenfield” em economias em desenvolvimento caiu 21%, com quedas particularmente acentuadas em países africanos ligados às cadeias de fornecimento globais — entre eles África do Sul, Nigéria e Gana.
O valor dos investimentos em manufactura desceu 36%, acompanhando o declínio dos sectores de energia e gás (-36%) e das indústrias de transformação (-32%).
A indústria automóvel, tradicionalmente vista como porta de entrada de novas tecnologias, colapsou 54%, somando apenas 8,5 mil milhões de dólares em projectos anunciados em toda a África.
Alguns Pontos de Resiliência
Apesar do quadro global adverso, a UNCTAD identifica sinais localizados de resiliência:
Ainda assim, o relatório sublinha que estes ganhos não compensam as perdas registadas nas áreas estruturais — energia, infra-estruturas e industrialização — que permanecem essenciais para o crescimento sustentável do continente.
A Necessidade de uma Nova Estratégia Africana de Investimento
A UNCTAD alerta que, sem reformas institucionais e mecanismos regionais de mitigação de risco, o continente continuará a atrair fluxos voláteis e de curto prazo.
A organização recomenda:
“O futuro do investimento em África dependerá da capacidade de o continente desenvolver políticas próprias, integradas e sustentáveis. O investimento estrangeiro deve ser um catalisador de transformação estrutural — e não apenas uma fonte temporária de liquidez”, conclui o relatório.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Com uma queda de 42% no investimento directo estrangeiro e forte retração nos projectos sustentáveis, a África Subsariana enfrenta um momento decisivo.
A transformação do continente exige governação económica robusta, financiamento inovador e integração regional efectiva, para transformar o potencial em resultados concretos — e reverter o ciclo de dependência e vulnerabilidade externa.
Fonte: O Económico






