Rafael Mariano Grossi defende que é essencial reforçar o apoio dos Estados-membros ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, TNP, e ao mandato da agência da ONU.
Acordo no Irã
Após a retirada dos inspetores da Aiea do Irã, em junho, foi assinado no Cairo um acordo com o governo iraniano para retomar a plena implementação das salvaguardas.
Esse conjunto de medidas permite verificações e inspeções dando a garantia que países-membros não utilizem tecnologia nuclear para fins militares.
Grossi destacou que o regresso dos inspetores será um sinal de que nada substitui o diálogo na busca de soluções duradouras. O chefe da Aiea também assinalou progressos com a Síria, após encontro com o presidente Ahmed Al-Sharaa, sublinhando que a cooperação plena poderá resolver em definitivo dúvidas passadas sobre o programa nuclear sírio e abrir caminho à reintegração internacional do país.

Ameaças e conflitos
A agência alertou para a continuidade do programa nuclear da Coreia do Norte, em violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e advertiu para “debates abertos em alguns países” sobre a aquisição de armas nucleares.
Em relação à Ucrânia, foi lembrado o trabalho no terreno com mais de 200 missões, realizadas desde 2022, incluindo a proteção do Complexo Nuclear de Zaporizhzhya, considerada a maior usina atômica da Europa, e que ainda está ameaçada por operações militares.
Energia e clima
Na frente energética, foi sublinhado o “regresso ao realismo” em torno da energia nuclear como solução para a segurança energética e a ação climática. Atualmente, quase 40 países estão em fases distintas de desenvolvimento de programas nucleares, enquanto o Banco Mundial abriu caminho para financiar novos projetos, incluindo em países em desenvolvimento.
A Aiea anunciou também avanços na utilização de pequenos reatores modulares Smrs, aplicações para dessalinização e transporte marítimo, e iniciativas de inovação como o Atlas, voltado para tecnologias nucleares aplicadas ao mar.

Saúde e desenvolvimento
O diretor-geral recordou que o cancro continua a ser uma “crise silenciosa” em países em desenvolvimento; destacou o impacto da iniciativa Raios de Esperança já em funcionamento em 40 países, com novos hospitais, máquinas de radioterapia e formação de especialistas.
Foram ainda realçados projetos em segurança alimentar e agricultura sustentável no âmbito do programa Atoms4Food, além da luta contra a poluição plástica através da iniciativa Nutec Plastics, que já envolve mais de 100 Estados-membros.
Olhar para o futuro
Para dezembro, está prevista a realização do primeiro Simpósio Internacional sobre Inteligência Artificial e Energia Nuclear, explorando como a tecnologia pode apoiar tanto a operação de centrais como a transição energética.
O avanço da energia de fusão também esteve em destaque, com a previsão de que a primeira central comercial poderá estar operacional ainda nesta geração.
Concluindo a intervenção, o diretor-geral da Aiea, Rafael Mariano Grossi, reiterou que “a paz não é apenas ausência de conflito, mas esforço dinâmico e coletivo”, apelando à renovação do compromisso dos Estados-membros com a missão da Aiea e com a segurança nuclear global.
Fonte: ONU