Agricultura Moçambicana Entre a Estagnação e o Potencial: Como Superar os Desafios e Aproveitar as Oportunidades?

0
40

O sector agrário moçambicano continua a ser o alicerce da economia nacional, empregando a maioria da população e desempenhando um papel central na segurança alimentar. No entanto, enfrenta entraves estruturais que limitam a sua produtividade e competitividade. O mais recente Inquérito de 2023 sobre o Desenvolvimento Agrícola, realizado no âmbito do programa Crescimento Inclusivo em Moçambique (IGM), revela que, apesar das dificuldades, há oportunidades concretas que podem transformar o sector e garantir um crescimento sustentável.

<

p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>O estudo, conduzido pela Direcção Nacional de Políticas Económicas e de Desenvolvimento (DNPED) do Ministério de Planificação e Desenvolvimento (MPD) em colaboração com instituições académicas nacionais e internacionais, analisa tendências agrícolas entre 2000 e 2020, destacando os principais desafios e as estratégias necessárias para desbloquear o potencial produtivo do país.

Baixa Produtividade e Ameaças Climáticas: O Freio ao Crescimento

Apesar de Moçambique possuir vastas terras aráveis e condições climáticas favoráveis para diversas culturas, a produtividade agrícola mantém-se abaixo do esperado. O rendimento médio do milho, principal cultura alimentar do país, ronda 1,2 toneladas por hectare, enquanto nos países vizinhos os valores variam entre 2 a 3 toneladas. O arroz e o feijão seguem a mesma tendência, com flutuações de rendimento dependentes das condições climáticas e da escassez de insumos agrícolas de qualidade.

A falta de mecanização continua a ser um dos principais entraves, com a maioria dos pequenos produtores ainda a depender de técnicas tradicionais e de mão-de-obra intensiva. O estudo aponta que mais de 80% das explorações agrícolas são de pequena escala, limitando o acesso a tecnologia e a métodos modernos de cultivo. A carência de infra-estruturas, nomeadamente estradas, armazéns e sistemas de irrigação, também compromete o crescimento do sector, causando perdas pós-colheita estimadas entre 25% e 40% da produção.

Outro desafio crítico é a crescente vulnerabilidade às mudanças climáticas. Nos últimos anos, Moçambique sofreu eventos extremos como os ciclones Idai, Kenneth e Freddy, que destruíram colheitas e infra-estruturas agrícolas em vastas áreas do país. A imprevisibilidade do clima intensifica a insegurança alimentar e expõe milhões de famílias rurais a condições precárias de subsistência.

Crescimento da Agro-Indústria e Exportações: Oportunidades para o Futuro

Embora os desafios sejam evidentes, o relatório destaca oportunidades que podem transformar o panorama agrícola nacional. O crescimento da produção de culturas comerciais como a castanha de caju, algodão e hortícolas demonstra que, com os incentivos certos, o sector pode gerar maior valor económico e criar emprego. A castanha de caju, por exemplo, consolidou-se como um dos produtos agrícolas mais exportados pelo país, beneficiando de investimentos na sua cadeia de valor.

O mercado interno também oferece potencial inexplorado. Com o aumento da urbanização, a procura por hortaliças, frutas e produtos pecuários tem crescido, criando espaço para o desenvolvimento da agro-indústria e fortalecimento das cadeias de abastecimento. Pequenos e médios agricultores que conseguirem integrar-se nesses circuitos poderão expandir a sua produção e melhorar a sua rentabilidade.

O relatório recomenda um maior investimento na transformação agrícola, incentivando a agro-indústria como forma de reduzir a dependência das importações de produtos processados e agregar valor às matérias-primas locais. A melhoria das cadeias logísticas e a promoção de programas de financiamento acessíveis aos pequenos produtores são apontadas como passos essenciais para dinamizar o sector.

O Papel das Políticas Públicas e a Necessidade de Reformas

Apesar da existência de programas estratégicos como o Plano Director do Sector Agrário, os especialistas alertam que a falta de implementação eficaz tem sido um dos principais obstáculos à modernização do sector. A ausência de coordenação entre instituições públicas, sector privado e pequenos produtores impede que muitas das políticas concebidas alcancem os seus objectivos.

O estudo recomenda reformas estruturais para tornar o ambiente agrícola mais competitivo. Entre as propostas, destaca-se a criação de fundos específicos para o crédito agrícola, que permitam aos pequenos produtores aceder a capital para aquisição de equipamentos e insumos. Além disso, sugere-se o fortalecimento dos serviços de assistência técnica e extensão rural, garantindo que as boas práticas agrícolas cheguem efectivamente às comunidades rurais.

Outro ponto crucial é a adaptação climática, que exige investimentos em sistemas de irrigação, melhoramento genético de culturas resistentes a secas e formação de agricultores em práticas sustentáveis. A transição para uma agricultura mais resiliente pode reduzir os impactos dos choques climáticos e aumentar a produtividade de longo prazo.

Um Futuro Promissor, Mas Exige Acção Imediata

A agricultura moçambicana encontra-se num momento decisivo. Se os desafios estruturais forem enfrentados com estratégias eficazes e investimentos bem direccionados, o sector poderá tornar-se um verdadeiro motor de crescimento económico e de redução da pobreza. As oportunidades existem, desde que haja um compromisso real com a modernização da produção, o fortalecimento da agro-indústria e a promoção da resiliência climática.

Com um planeamento estratégico sólido, o envolvimento do sector privado e a implementação de políticas inclusivas, a agricultura poderá não apenas garantir a segurança alimentar da população, mas também posicionar Moçambique como um actor relevante no mercado agrícola regional. O desafio agora é transformar as recomendações do estudo em acções concretas que impulsionem o desenvolvimento sustentável do sector.

Fonte: O Económico

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!