Armando Miguel Correia de Sá, ou apenas o “Comboio da Luz”, terminou a carreira de jogador há quase 15 anos. Em todo o caso, o antigo lateral de Benfica e Sp. Braga edifica o percurso de treinador em Vancouver, na Liga do Canadá.
Aproveitando uma pausa na preparação da quarta época pelo Pacific FC, onde é treinador-adjunto, conversou com o Maisfutebol sobre os sonhos e a evolução do futebol norte-americano, até porque os Estados Unidos e o Canadá acolhem o Mundial 2026.
Além disso, Armando Sá analisou a Liga portuguesa e o momento de Moçambique.
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Maisfutebol: Que momento vive nesta carreira a despontar?
Armando Sá: A Liga do Canadá ainda é recente, vai para o sétimo ano, em abril. O Pacific foi campeão por uma vez, em 2019. Todos os anos atingimos os play-offs. Neste momento, o campeonato é constituído por oito equipas e esperemos que mais se juntem. É semelhante à MLS, dos Estados Unidos, num sistema de prova privada. E estas equipas disputam a Liga dos Campeões da CONCACAF. Há emblemas canadianos que competem na MLS e na Taça do Canadá.
MF: No Canadá já é possível reter talento para abastecer a seleção?
AS: Sim, o selecionador tem visitado vários clubes, para explicar a filosofia que pretende implementar. Por isso, os clubes estão em comunhão. O Mundial 2026 está a chegar e há o objetivo de reforçar o Canadá. Para isso, teremos também de melhorar a competição interna, de forma a revelar talentos. Há muita expectativa quanto à prestação do Canadá. A ideia de que é um país do hóquei no gelo e do basquetebol faz parte do passado. Há diversidade cultural, o que ajuda a encontrar talentos. Se o investimento for contínuo, então teremos muito potencial.
MF: O Mauro Eustáquio, irmão do médio do FC Porto, também treina no Canadá.
AS: Assumiu o comando técnico do York United no final de 2024. Temos uma boa relação, trocamos ideia com regularidade.
MF: O Stephen Eustáquio serve de referência no Canadá?
AS: Serve de exemplo para os mais novos, para mim é basilar na seleção. No FC Porto é importante, mas pelo Canadá é o cérebro e carrega uma responsabilidade muito grande.
MF: Ainda acompanha a Liga portuguesa?
AS: Sim. O FC Porto está instável, atravessa uma fase de transição, semelhante àquela vivida pelo Benfica até 2004/05. Quanto ao Sporting, esteve perdido, mas o Rui Borges – um belíssimo treinador – é a aposta certa. Por fim, o Benfica acertou nas contratações de janeiro. Destaco o Bruma, que vai ter várias oportunidades, porque é um jogador atrevido, ousado e não se encolhe. O novo Mantorras, talvez. Os adeptos vão gostar.
MF: Vamos ter campeonato até ao fim?
AS: Sim, até porque o FC Porto não vai desistir. Gostava também de destacar a época do Santa Clara.
MF: Passou por vários contextos, agora vive no sexto país [Moçambique, Portugal, Espanha, Inglaterra, Irão e Canadá]. Já espreita novos horizontes?
AS: Tenho contrato até 2026, mas nunca se sabe. Neste momento estamos em pré-época, a ajustar as ideias aos novos jogadores. Esta fase é muito importante em termos táticos. O campeonato começa em abril. Temos dois meses, mas alguns clubes já disputam a Liga dos Campeões.
MF: Quando se trabalha no Canadá, é mais fácil abrir portas na MLS e no México?
AS: A visibilidade é diferente, de facto. E a MLS é perspetivada com maior seriedade. Portanto, a atenção sobre a América do Norte está a crescer. É o efeito Messi e Mundial.
MF: Jogou por Moçambique em 21 jogos oficiais. Tem o sonho de ser selecionador?
AS: Joguei menos vezes do que gostaria, porque o calendário de seleções era diferente, não estava organizado. Eras obrigado a optar entre o clube e a seleção. Enquanto treinador, tenho o objetivo de atingir o patamar que consegui enquanto jogador, de agarrar projetos que me permitam valorizar os clubes ou seleções. E quem não gostaria de treinar o país natal? Neste momento, a seleção de Moçambique está muito bem entregue, portanto resta-me continuar a evoluir.
MF: Moçambique conta o Geny Catamo. É o melhor jogador?
AS: Creio que o Reinildo, do Atlético de Madrid, está num patamar superior. É a cara de Moçambique. Em todo o caso, o Geny é novo e espero que regresse rápido de lesão, porque tem potencial para brilhar noutros patamares.
MF: E quem era mais rápido, o Armando, o Geny ou o Geovanny Quenda?
AS: No meu melhor? Apostaria algumas fichas em mim.
MF: Fez formação pelo Belenenses. Seria o lugar ideal para dar o primeiro passo enquanto treinador principal?
AS: Com certeza. Foi lá que fiz toda a minha escola, conheci pessoas especiais e mentores. Vivi momentos inesquecíveis pelo Belém, é um clube que levo no coração.
Fonte: Mais Futebol