Artistas em Gaza sentem-se “marginalizados e abandonados”

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Artistas na província de Gaza sentem-se excluídos e marginalizados. Os fazedores de cultura denunciam, ainda, abandono da casa da cultura há mais de 10 anos e falta de políticas e de interesse em promover a cultura

Os artistas de Gaza cantam, dançam, esculpem, pintam, encenam e escrevem. Por meio da sua criatividade, vão além de si e do seu tempo e, através da arte, entretêm e moldam o rumo de uma época.

Isac Matusse, de 76 anos de idade, tem deficiência visual desde os seus três meses de vida, mas, com olhos da alma, o músico moçambicano sempre deu luz, vida e voz a diversas temáticas sociais.

Porém, infelizmente, sente-se abandonado, por não ter apoios de quem de direito. “A minha casa tem infiltrações. É o Governo que deve me ajudar nisso”, sugere Isac Matusse, secundado pela sua esposa, Isaura Macamo, que clama por ajuda, pois “não tem recebido ajuda, está sofrendo, sendo um artista de renome”.

Aos sete anos de idade, encontrou na música um caminho para expressar-se, mas foi aos 20 anos que deixou Chirindzene para a capital provincial, Xai-Xai, onde desde então fez da música a sua profissão, com mais de 100 composições.

Isac Matusse ganhou notoriedade no mercado em 2010, mas ainda assim não tem tido o apoio que deseja. “Preciso de ajuda para gravar um álbum. Tenho um vasto repertório musical”, revela e pede.

Com a sua esposa, Matusse desafia as manhãs frias e vende a sua música nos mercados da cidade na luta pelo prato de cada dia, até porque, segundo revelou, “passo fome por muitos dias”.

Entretanto, é uma actividade sem garantia e que, por vezes, é ingrata, segundo conta sua esposa Isaura Macamo. “Em dias de sorte, conseguimos 100 meticais. É com este dinheiro que preparamos as refeições”, revela.

E quem paga e aprecia diz que não faz sentido que vozes que contribuíram para a cultura na província continuem mergulhadas na miséria. Ademais, considera que a classe artística sempre foi deixada para trás pelo Governo.

Tudo isto acontece num contexto em que a casa provincial da cultura em Gaza atravessa a pior fase da sua história. O edifício principal, em particular o palco, sala de ensaio e de apresentações, está a cair aos pedaços por falta de manutenção há mais de 10 anos.

Manuel Rungo, coreógrafo em Xai-Xai, diz que a situação é devido à falta de interesse do Governo provincial. “Falamos do nosso governo também. Eu penso que, na verdade, não é priorizada a casa. É a razão porque está assim”, lamenta Manuel Rungo.

Já Edmilson, produtor musical na Casa de Cultura, diz mesmo que “em Gaza estamos abandonados, estamos num deserto”, realçando que “aqui temos estúdio, mas no estúdio nós não temos material de qualidade”.

O director da Casa da Cultura na província de Gaza, Jorge Mabunda, reconhece as dificuldades porque passam os mais de 100 artistas, mas fala de limitações orçamentais.

“Nenhum artista agora está interessado em vir fazer o seu evento na Casa de Cultura, porque não oferece condições”, revela.

Ainda assim, Jorge Mabunda fala de excepções: “Temos recebido anualmente um orçamento de aproximadamente 380 mil meticais, mas digo que esse orçamento só garante que a casa mantenha-se em funcionamento. Ainda não estamos a conseguir, se a gente conseguisse chegar pelo menos nos dois, três milhões já conseguiríamos comprar uma por uma coisa”, conta o director da Casa de Cultura de Gaza.

Sem palco para aperfeiçoar as suas actuações, entre outras actividades, a classe considera que não restam dúvidas de que há falta de políticas e interesse na promoção dos fazedores da cultura na província.

“Falando do teatro, o teatro está num estágio deplorável, dado que tem tantos artistas que ensaiam no próprio quintal e, mesmo assim, eles não têm espaço para exibir o seu talento”, conta Eduardo Vicente, professor de teatro.

A nossa equipa de reportagem tentou, por vários dias, ouvir a Direcção Provincial da Cultura e Turismo, mas ainda não se dignou a responder às nossas solicitações.

 

Fonte: O País

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