As Balas Que Ninguém Ouviu

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Por: Alfredo Júnior

 

No país onde o calor do dia se confunde com o ruído dos chapas, há silêncios que pesam mais do que mil buzinas. Silêncios que chegam quando um agente da lei cai. E nos últimos dias, caíram alguns.

Primeiro, foi em Matola. Depois, em Infulene. Homens que saíram de casa de uniforme, talvez com pressa, talvez sem saber que aquela podia ser a última manhã. As notícias chegaram frias: tiros, emboscadas, mortes. E, como quase sempre, uma frase comum, “as autoridades estão a investigar”.

A imprensa falou. A polícia reagiu. Mas o povo, esse, ficou a pensar. Quem protege os que nos devem proteger? E porquê agora, assim, de forma tão cruel?

Não se conhecem ainda os autores. Não se conhecem ainda os motivos. E por isso, esta crónica não é denúncia nem julgamento. É apenas uma tentativa de travar o tempo, de respirar fundo e perguntar: quantos mais?

A farda, em tempos, foi símbolo de autoridade. Hoje, para alguns, parece um alvo. E isso inquieta. Inquieta quem tem um irmão polícia, uma prima no SERNIC, um amigo na patrulha da esquina. Inquieta mesmo quem não conhece ninguém porque se o medo chegar aos que carregam armas legais, o que sobra para os que só carregam esperança?

Entre os relatos e as promessas de justiça, fica um pedido: que estas mortes não desapareçam nas estatísticas nem se percam no esquecimento. Que os nomes sejam lembrados, que as famílias sejam amparadas, e que o país pare, por um momento, para sentir o peso do que está a acontecer.

Porque quando um agente morre, não é só uma vida que se apaga. É um aviso, um espelho e, acima de tudo, uma responsabilidade que não pode ser ignorada.

 

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