A subida das taxas de juro tem sido a principal ferramenta dos bancos centrais para conter a inflação persistente. No entanto, um estudo recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para o risco de que esse aperto monetário possa ter efeitos colaterais graves no sector bancário, exacerbando a instabilidade financeira global. Os economistas Katharina Bergant, Mai Hakamada, Divya Kirti e Rui C. Mano destacam que, embora os sistemas bancários estejam amplamente protegidos contra a inflação, algumas instituições financeiras continuam vulneráveis a choques nas taxas de juro, o que pode desencadear crises sistémicas.
Um Dilema para a Política Monetária
Desde a pandemia da COVID-19, os bancos centrais têm enfrentado um dilema crítico: subir as taxas de juro para conter a inflação ou mantê-las baixas para evitar riscos de instabilidade financeira. Segundo Katharina Bergant, “antes da pandemia, os investidores estavam preocupados com os efeitos das taxas de juro persistentemente baixas nos lucros dos bancos. Agora, paradoxalmente, há receios sobre a capacidade de adaptação do sector bancário a taxas mais elevadas”.
O estudo do FMI revela que a maioria dos bancos consegue equilibrar receitas e despesas em ambientes inflacionários. No entanto, 3% das instituições em economias avançadas e 6% nos mercados emergentes enfrentam um nível de exposição a taxas de juro semelhante ao do Silicon Valley Bank, cuja falência em 2023 gerou receios sobre a resiliência do sector bancário.
Vulnerabilidades no Sistema Bancário
Embora o impacto da inflação na rentabilidade bancária varie de país para país, alguns bancos estão particularmente expostos devido a modelos de negócio e gestão de risco específicos. Segundo Divya Kirti, “os bancos cujas receitas provêm fortemente de actividades não tradicionais, como serviços financeiros e taxas, podem estar mais vulneráveis às flutuações inflacionárias, pois não têm o mesmo mecanismo de protecção que aqueles cuja principal fonte de rendimento são os juros dos empréstimos”.
Nos mercados emergentes, a situação é ainda mais delicada. “Os bancos nessas economias parecem estar mais expostos directamente à inflação, possivelmente devido a uma maior indexação dos preços”, explica Mai Hakamada. Isso significa que mudanças rápidas nas taxas de juro podem desencadear efeitos em cascata, dificultando a estabilidade macroeconómica.
O Risco de Pânico no Sector Bancário
O aumento das taxas de juro pode resultar em perdas significativas para bancos com grande exposição à inflação. Se essas perdas forem substanciais, podem desencadear reacções adversas por parte dos investidores e clientes, levando a um efeito dominó. “Se os clientes e investidores reavaliam os riscos no sistema bancário como um todo, podem provocar um pânico generalizado”, alerta Rui C. Mano.
A falência de bancos pode gerar uma crise de confiança no sector financeiro, obrigando os bancos centrais a intervir. No entanto, essa intervenção cria um novo dilema para as autoridades monetárias: se subirem agressivamente as taxas para conter a inflação, podem colocar em risco a saúde financeira das instituições bancárias mais expostas; se hesitarem em endurecer a política monetária, a inflação pode continuar a crescer descontroladamente.
Medidas para Evitar uma Crise
Para mitigar os riscos, os economistas sugerem um conjunto de medidas que podem ajudar a equilibrar a necessidade de combate à inflação com a preservação da estabilidade financeira:
Apesar destas sugestões, Katharina Bergant sublinha que “mesmo com regulações mais fortes, pode haver momentos em que os bancos centrais terão de decidir entre subir as taxas de juro para conter a inflação ou evitar uma crise bancária”.
Em suma…
O desafio da política monetária global continua a ser encontrar o equilíbrio entre combater a inflação e preservar a estabilidade financeira. O estudo do FMI mostra que, embora a maioria dos bancos esteja relativamente protegida contra a inflação, algumas instituições ainda enfrentam riscos significativos. A forma como os bancos centrais lidam com esta questão poderá definir o rumo da economia global nos próximos anos, sendo essencial que adoptem políticas que minimizem os riscos de uma nova crise financeira.
Fonte: O Económico