Aviação Global Regista Crescimento Recorde, Mas Adopção de Combustíveis

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A aviação comercial global atingiu um novo recorde de tráfego em 2024, superando os níveis pré-pandemia em 4%. No entanto, a transição para combustíveis sustentáveis (SAF) continua aquém das expectativas, representando apenas 0,3% do consumo total de combustível da aviação comercial, muito abaixo da meta da International Air Transport Association (IATA), que previa uma participação de 0,53% em 2024.

Um Crescimento que Anula os Benefícios Climáticos

Companhias aéreas como Air France-KLM, Delta Air Lines e Cathay Pacific prometeram atingir um consumo de 10% de SAF até 2030. No entanto, o CEO da LanzaJet, Jimmy Samartzis, alerta que essa meta pode não ser alcançada. “A realidade da indústria indica que é improvável atingirmos esse objetivo”, afirmou.

Mesmo que as transportadoras consigam substituir 10% do seu combustível por alternativas sustentáveis até ao final da década, os impactos positivos no clima podem ser anulados pelo crescimento acelerado da indústria. A IATA prevê um aumento adicional de 8% no tráfego aéreo em 2025, enquanto governos como o do Reino Unido planeiam expansões de infraestrutura, incluindo uma terceira pista no Aeroporto de Heathrow, contrariando pressões ambientais.

A professora de política energética da Universidade de Manchester, Alice Larkin, reforça essa preocupação: “O crescimento da aviação geralmente anula os esforços de descarbonização do setor”.

Desafios na Produção e no Custo do SAF

A indústria atribui a baixa adoção do SAF à falta de produção em escala e ao alto custo. O combustível sustentável custa atualmente pelo menos o dobro do querosene tradicional, o que leva muitas companhias a retardar seus planos de redução de emissões. Em 2023, apenas 0,17% do consumo da United Airlines e 0,09% da Delta foi composto por SAF.

Novas refinarias começaram a operar recentemente, como a Diamond Green Diesel, nos EUA, e a instalação da Phillips 66, na Califórnia, ambas aptas a produzir combustíveis renováveis. No entanto, essas refinarias também produzem combustíveis para transporte rodoviário, podendo alternar a produção conforme a demanda.

A falta de regulação global também impede avanços significativos. A União Europeia e o Reino Unido passaram a exigir que 2% do combustível de aviação seja SAF a partir de 2025, enquanto Singapura planeia introduzir uma taxa para incentivar o uso. No entanto, nos EUA, a proposta de obrigação de SAF na Califórnia foi retirada devido à pressão da indústria.

Futuro do SAF: Expectativas e Obstáculos

A IATA acredita que, após 2030, a produção de SAF aumentará significativamente, podendo abastecer até 90% da aviação no longo prazo. Contudo, essa previsão é questionada por especialistas que apontam dificuldades na expansão da infraestrutura necessária para essa transição.

Algumas iniciativas governamentais buscam incentivar o SAF, como um crédito fiscal de 1,50 dólar por galão em Illinois, tornando-o mais viável para companhias que operam no Aeroporto de O’Hare. “Ter esses incentivos estaduais é fundamental para a transição”, destacou Lauren Riley, diretora de sustentabilidade da United Airlines.

Apesar dos investimentos e das ambições climáticas, a adoção do SAF continua a um ritmo lento. Além dos desafios económicos e regulatórios, desastres naturais também afetam a produção. A refinaria da LanzaJet, na Geórgia, não conseguiu produzir combustível após ser atingida pelo furacão Helene em setembro de 2024, atrasando a entrega do SAF planejado para o mercado.

“Levará tempo para resolvermos os problemas, otimizarmos as unidades e assegurarmos uma produção segura”, explicou Samartzis, CEO da LanzaJet.

O crescimento exponencial da aviação global coloca um desafio significativo para os objectivos climáticos do sector. Embora as companhias aéreas e governos estejam a promover combustíveis sustentáveis como solução, a transição enfrenta barreiras económicas, produtivas e regulatórias.

O sucesso da descarbonização da aviação dependerá de investimentos acelerados, regulações mais rígidas e incentivos financeiros que viabilizem a mudança para um modelo mais sustentável. Entretanto, a velocidade de crescimento da indústria pode continuar a eclipsar os avanços obtidos, tornando incerto o cumprimento das metas de redução de emissões estabelecidas para 2030 e além.

Fonte: O Económico

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