Banco de Moçambique admite que primeiro trimestre de 2025 está “quase perdido” para o crescimento económico

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O Banco de Moçambique (BdM) reconheceu que o primeiro trimestre de 2025 será praticamente perdido em termos de crescimento económico, devido à combinação de agitação social pós-eleitoral, riscos fiscais e choques climáticos.

O Governador da instituição, Rogério Zandamela, afirmou que, na melhor das hipóteses, Moçambique deverá registar um crescimento zero ou até negativo até Março, sendo esperada uma recuperação económica apenas a partir do segundo trimestre.

A declaração foi feita após a reunião do Comité de Política Monetária (CPMO), onde o BdM decidiu reduzir a taxa de juro da política monetária (MIMO) de 12,75% para 12,25%, além de cortar os coeficientes de reservas obrigatórias para moeda nacional e estrangeira de 39% para 29%, medida que visa aumentar a liquidez da economia e apoiar a recuperação da capacidade produtiva.

Factores que ameaçam o crescimento económico

O Banco de Moçambique identificou três factores principais que contribuem para o abrandamento económico no início de 2025:

Apesar das incertezas, Zandamela acredita que a economia poderá recuperar no segundo semestre, desde que haja reformas estruturais e políticas de estímulo económico eficazes.

Banco de Moçambique aposta na flexibilização monetária

A redução da taxa MIMO faz parte da estratégia do banco central para estimular a economia num ambiente de inflação moderada.

Além disso, o BdM reduziu os coeficientes de reservas obrigatórias para moeda nacional e estrangeira de 39% para 29%, uma medida que permitirá aos bancos conceder mais crédito a empresas e consumidores.

Segundo Oldemiro Belchior, especialista em mercados financeiros, estas medidas poderão estimular a procura por financiamento e aliviar o serviço da dívida das empresas e das famílias.

“Sempre que os encargos financeiros reduzem, há um estímulo à expansão económica. Se o Banco de Moçambique continuar com este processo de normalização da taxa de juro, é possível que vejamos uma recuperação da procura de crédito e um fortalecimento da economia moçambicana”, afirmou.

No entanto, o acesso a divisas continua a ser um desafio, já que a disponibilidade de moeda estrangeira no mercado interbancário ainda é limitada.

Inflação em Moçambique sobe, mas continua controlada

A inflação anual subiu de 2,84% em Novembro para 4,15% em Dezembro, reflexo da redução da oferta de bens e serviços durante a crise pós-eleitoral.

O Banco de Moçambique prevê que a inflação permaneça abaixo dos 10% no médio prazo, sustentada pela estabilidade do metical e pela flexibilização monetária.

Contudo, economistas alertam que o aumento das despesas públicas e os possíveis cortes no financiamento externo podem criar pressão inflacionária nos próximos meses.

Sector privado defende novas medidas para acelerar a recuperação

O sector empresarial moçambicano tem apelado a mais medidas de apoio à recuperação das empresas, especialmente após os protestos que causaram prejuízos significativos a diversas infraestruturas e cadeias produtivas.

O economista Eduardo Sengo, representante da CTA, defendeu que é necessário um pacote adicional de estímulo, incluindo novas linhas de financiamento para empresas afectadas pela crise.

“A economia precisa de um plano mais abrangente. A redução das taxas de juro e das reservas obrigatórias são um passo importante, mas precisamos de incentivos directos para que as empresas possam reabilitar as suas operações e recuperar o investimento perdido”, afirmou.

Sengo destacou ainda que a falta de estabilidade política pode atrasar a retoma da actividade económica, independentemente das medidas tomadas pelo Banco de Moçambique.

Próximos passos e perspectivas para o resto do ano

A próxima reunião do Comité de Política Monetária está agendada para 26 de Março, e o desempenho da economia até essa data será crucial para determinar se novas medidas serão necessárias para garantir a estabilidade e estimular o crescimento.

O Banco de Moçambique tem optado por uma política monetária mais flexível, tentando equilibrar a necessidade de conter a inflação com a urgência de dinamizar a economia. No entanto, a resolução da crise política e a implementação efectiva de reformas estruturais serão decisivas para uma recuperação económica mais robusta em 2025.

O que esperar?
A estabilidade económica de Moçambique dependerá do controlo da inflação, da recuperação da confiança dos investidores e da resposta do Governo às incertezas políticas e fiscais. O primeiro trimestre pode estar perdido, mas a estratégia de recuperação determinará o desempenho do país no resto do ano.

Fonte: O Económico

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