Resumo
O Banco Mundial defende uma abordagem sistémica para gerar emprego sustentável, destacando a importância de ecossistemas económicos interligados que unem infra-estruturas, inovação digital, políticas públicas e sector privado. Sob a liderança de Ajay Banga, a instituição propõe a criação de sistemas interligados que promovam crescimento inclusivo, resiliência e oportunidades sustentáveis, com foco em cinco sectores estratégicos. O programa AgriConnect visa transformar a agricultura de subsistência num motor comercial sustentável, apoiando pequenos produtores com tecnologia, crédito e acesso a mercados. Na Nigéria, a transformação digital é vista como a base de um novo modelo económico, com o país a apostar na conectividade acessível e significativa para todos nos próximos cinco anos, impulsionando a economia digital e a criação de empregos.
Ajay Banga sublinha que “os empregos não são um subproduto do desenvolvimento, mas o seu resultado mais importante”. A nova estratégia do Banco Mundial aposta em ecossistemas económicos interligados que unem infra-estruturas, inovação digital, políticas públicas e sector privado.
O Banco Mundial quer transformar a forma como o mundo cria empregos. Sob a liderança de Ajay Banga, a instituição defende uma abordagem integrada que conecta infra-estruturas, inovação tecnológica, políticas públicas e iniciativa privada — um “ecossistema” capaz de gerar crescimento inclusivo, resiliência e oportunidades sustentáveis.
“Os empregos não são um resultado acidental do desenvolvimento. São o resultado final de um desenvolvimento feito da forma correcta”, afirmou Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, durante o mais recente episódio do The Development Podcast.
A visão central é simples, mas ambiciosa: construir sistemas interligados, onde saúde, energia, educação, digitalização e investimento privado se reforcem mutuamente para criar oportunidades de trabalho em larga escala.
O foco inicial está em cinco sectores estratégicos — infra-estruturas e energia, agro-negócio, saúde, turismo e indústria transformadora — definidos como “motores de crescimento” para as economias emergentes.
“Capacitar uma jovem não é suficiente se não houver energia para a fábrica que poderá contratá-la”, observou Banga. “Uma estrada reduz a pobreza apenas se ligar o agricultor ao mercado e não for destruída pelas cheias.”
AgriConnect: agricultura como motor de crescimento
O programa AgriConnect é um dos pilares desta abordagem. A iniciativa procura transformar a agricultura de subsistência num motor comercial sustentável, apoiando pequenos produtores com tecnologia, crédito e acesso a mercados.
Segundo Banga, África detém 60% das terras aráveis não cultivadas do mundo, e países como Moçambique, Nigéria e Quénia podem tornar-se líderes em produtividade agrícola e criação de empregos rurais.
O Banco Mundial anunciou o aumento do financiamento anual para 9 mil milhões de dólares até 2030, acompanhado de 5 mil milhões adicionais mobilizados junto de parceiros multilaterais.
A revolução digital africana: o caso da Nigéria
Para o ministro nigeriano das Comunicações e Economia Digital, Bosun Tijani, a transformação digital é a base de um novo modelo económico.
“A Nigéria está prestes a transformar-se numa economia digital total. Já somos o principal centro de dados da África Ocidental e contamos com oito cabos submarinos. O objectivo é garantir conectividade acessível e significativa para todos nos próximos cinco anos”, explicou Tijani.
O país já possui sete unicórnios tecnológicos, um dos números mais altos de África, e avança com o sistema de identificação digital, apoiado pelo Banco Mundial, que cobre 130 milhões de cidadãos adultos.
A aposta digital, sublinha Tijani, é transversal: saúde, educação, agricultura e serviços públicos serão impulsionados por tecnologias inteligentes, potenciando a inclusão produtiva e a criação de empregos qualificados.
Pequena Inteligência Artificial, Grande Impacto
O professor Bhaskar Chakravorti, da Tufts University, apresentou o conceito de “small AI” — uma inteligência artificial de baixo custo e de aplicação específica, adaptada às realidades dos países em desenvolvimento.
“Enquanto o big AI procura poder e escala, o small AI procura propósito. Pequenos algoritmos especializados em problemas concretos — saúde, agricultura, educação — podem ter impactos sociais massivos”, afirmou.
Exemplos incluem ferramentas agrícolas que ajudam agricultores a identificar pragas e doenças nas culturas, permitindo reduzir até 50% das perdas agrícolas em África e melhorar significativamente o rendimento das famílias rurais.
Agricultura inclusiva e mulheres empreendedoras
O episódio destacou ainda o papel das mulheres no agro-negócio sustentável.
Nidhi Pant, cofundadora da S4S Technologies, relatou como 5.000 mulheres agricultoras indianas transformam excedentes agrícolas em produtos de maior valor, como polpas e molhos, usando equipamentos movidos a energia solar.
“Estamos a prevenir o desperdício alimentar, criar rendimentos adicionais e promover a independência financeira feminina”, disse Pant.
Já Chege Kirundi, presidente da Kenya Tea Development Agency (KTDA), destacou que 700 mil pequenos produtores de chá no Quénia geram o segundo maior volume de divisas do país, defendendo “uma nova era de agregação, valor acrescentado e acesso a mercados globais”.
Com a criação de sistemas interligados — do agro-negócio à digitalização, passando pela energia e educação — o Banco Mundial aposta numa abordagem holística ao desenvolvimento, onde cada sector alimenta o outro. “Tudo está conectado”, resume Ajay Banga. E é dessa conexão que o mundo poderá extrair o seu maior dividendo: emprego digno e sustentável.
Fonte: O Económico






