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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Questões-Chave:
Numa conferência de alto nível realizada em Tóquio, o Banco do Japão (BOJ) e representantes de bancos centrais de todo o mundo reuniram-se para debater as duras realidades económicas actuais, marcadas por crescimento lento e inflação resistente. O evento, inspirado no modelo do simpósio de Jackson Hole da Reserva Federal, trouxe à tona o dilema dos bancos centrais: como gerir riscos inflacionários sem comprometer a recuperação económica.
A edição deste ano da conferência anual do BOJ, realizada nos dias 27 e 28 de Maio, decorreu sob o mote “Novos Desafios para a Política Monetária”, reflectindo as tensões crescentes entre o controlo da inflação e a necessidade de sustentar o crescimento. Um dos temas centrais foi o impacto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump, que introduziram novos choques de oferta globais e criaram volatilidade nos mercados.
Entre os participantes estiveram responsáveis do Federal Reserve (incluindo John Williams), do Banco Central Europeu, do Banco do Canadá e do Banco da Reserva da Austrália, bem como economistas seniores e académicos internacionais. Os debates centraram-se na persistência da inflação, na pressão para ajustar taxas de juro e na eficácia do quantitative tightening (endurecimento quantitativo) como ferramenta de política monetária.
O Banco do Japão, que recentemente reduziu as suas previsões de crescimento em resposta aos efeitos negativos das tarifas, mantém as taxas de juro em níveis baixos (0,5%), mas o governador Kazuo Ueda sublinhou que, caso a inflação subjacente continue em direcção à meta de 2%, haverá espaço para retomar os aumentos. Em Abril, a inflação no consumidor japonês atingiu 3,5%, com os preços dos alimentos a subirem 7%, pressionando os rendimentos reais das famílias.
O documento de trabalho debatido na conferência — publicado pelo FMI em Dezembro e intitulado “Monetary Policy and Inflation Scares” — adverte que choques de oferta persistentes, como os decorrentes da pandemia da COVID-19, não devem ser encarados como transitórios, sob pena de levar os bancos centrais a erros de julgamento com graves repercussões.
Enquanto o BCE sinaliza um possível corte de taxas em Junho, a pressão para pausar intervenções adicionais cresce, com alertas de que as tarifas actuais, embora desinflacionárias no curto prazo, podem provocar pressões inflacionárias a médio prazo. Isabel Schnabel, membro do conselho do BCE, alertou em Stanford para o risco de o banco central ser apanhado desprevenido por essas forças.
A conferência de Tóquio evidencia um consenso incipiente: os bancos centrais enfrentam um cenário muito mais volátil e imprevisível, onde políticas erráticas e guerras comerciais transformam o campo de actuação da política monetária. A ausência de uma narrativa única global exige prudência, mas também maior coordenação.
Fonte: O Económico