O Banco Central Europeu (BCE) anunciou um corte de 25 pontos base na sua principal taxa de juro, fixando-a em 2,25%, o valor mais baixo desde finais de 2022. A decisão, tomada por unanimidade pelo Conselho de Governadores, surge num contexto de desaceleração económica e incerteza provocada pelas políticas comerciais dos Estados Unidos, e reforça a expectativa dos mercados quanto a novas rondas de flexibilização monetária nos próximos meses.
Na conferência de imprensa de 17 de Abril, a presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheceu que “os riscos de abrandamento do crescimento económico aumentaram significativamente”, apontando como factores centrais a escalada das tensões comerciais, o recuo nas exportações e a quebra da confiança empresarial e do investimento.
“A grande escalada das tensões comerciais a nível mundial e as incertezas associadas irão provavelmente reduzir o crescimento da área do euro”, declarou Lagarde.
Apesar de não ter antecipado explicitamente novos cortes, Lagarde deixou a porta aberta, dizendo que as decisões serão tomadas “reunião a reunião”. Fontes citadas pela Reuters adiantaram que, a menos que haja uma acalmia substancial no conflito comercial com os EUA, um novo corte já em Junho continua em cima da mesa.
Vários analistas, como Carsten Brzeski (ING) e Joerg Kraemer (Commerzbank), convergem na expectativa de pelo menos mais dois cortes até ao final do ano, fixando a taxa de depósito em 1,75%.
O impacto das tarifas dos EUA tem sido particularmente crítico. Lagarde referiu que um aumento de 25% nas tarifas sobre produtos da UE, combinado com retaliações do bloco europeu, poderia cortar até meio ponto percentual ao crescimento da zona euro, comprometendo metade da expansão esperada.
Além disso, os bancos de investimento começaram a rever em baixa as previsões de inflação. O HSBC estima agora 1,9% para 2025 e 1,8% para 2026, abaixo da meta de 2% do BCE.
“As forças desinflacionistas estão a acumular-se, desde a valorização do euro até à quebra nos preços da energia e ao excesso de oferta chinesa na Europa”, observou o banco.
Embora Lagarde tenha insistido que o BCE mantém “mente aberta”, o próprio comunicado oficial do banco abandonou a habitual referência a uma política monetária “restritiva”, o que os mercados interpretaram como um sinal de maior flexibilidade futura.
A volatilidade recente nos mercados financeiros, induzida por declarações erráticas da Administração Trump, adicionou mais pressão sobre os decisores europeus. A data de Junho — quando expira o actual congelamento de tarifas imposto pelos EUA — será crucial para avaliar a evolução do cenário.
Fonte: O Económico