O Benfica fez neste sábado aquilo que estava obrigado a fazer.
Venceu o Moreirense (3-2), recuperou dois dos seis pontos que tinha de atraso para o líder Sporting à entrada para esta jornada e adicionou dois aos dois que tinha de vantagem sobre o FC Porto.
Esta, a juntar ao «novo normal» que é ver Pavlidis ser o goleador que os adeptos do Benfica duvidaram ser desde agosto até àquela noite louca na Luz com o Barcelona, foi uma das poucas normalidades de um jogo com contornos anormais e, até, quase paranormais nos primeiros 45 minutos.
Com duas alterações em comparação com o último jogo – Bah e Schjelderup foram titulares em detrimento de António Silva e Di María (lesionado) – o Benfica construiu cedo uma vantagem de dois golos.
O que seria normal, não fosse o facto de nunca ter sido uma equipa dominante até ao minuto 15, quando Pavlidis bisou depois de ter inaugurado o marcador na conversão de um penálti assinalado após ida do árbitro ao VAR.
Mesmo sem somar qualquer vitória desde 5 de dezembro do ano passado, quando derrotou o Sporting em casa, o Moreirense desceu à capital com uma estratégia arrojada. Subiu as linhas e reclamou a bola ao ponto de ter fechado a primeira parte com mais posse do que os encarnados num jogo na Luz, o que também não costuma ser normal.
O que costuma ser normal é o Benfica ter noites tranquilas depois de se ver a ganhar confortavelmente ainda em fases prematuras de jogos. Mas hoje nem com 2-0 a equipa de Bruno Lage deu sinais de tranquilidade. Porque o resultado estava claramente inflacionado para o que se via das duas equipas e porque Benny, aos 19 minutos, reduziu distâncias.
As anormalidades desta noite na Luz foram tantas, mas mesmo tantas, que houve também espaço para um toque de ciências ocultas.
Qual é a probabilidade de dois jogadores da mesma equipa lesionarem-se (com aparente gravidade) no joelho esquerdo num espaço de três minutos? Paranormal.
António Silva e Florentino foram a jogo para render Bah e Manu Silva já depois da meia-hora de jogo. Por essa altura, o Moreirense já justificava outro resultado, mas foi o Benfica que chegou ao terceiro por Nicolás Otamendi na sequência de um canto.
O 3-1 ao intervalo era, também, uma anormalidade. Porque não espelhava, de longe, o que tinham sido os primeiros 45 minutos, mas também porque premiava a tremenda eficácia de uma equipa (o Benfica) e castigava a ineficácia de outra, que criou pelo menos mais duas ocasiões flagrantes de golo, a última mesmo a fechar a primeira parte.
O regresso dos balneários pareceu repor alguma normalidade. As águias passaram a ter mais momentos com bola e foram capazes de manter os cónegos mais longe da baliza de Trubin.
Só que as mexidas de César Peixoto a partir da hora de jogo, aliadas às três alterações de uma assentada de Bruno Lage – depois das substituições forçadas, só podia mexer em mais uma paragem de jogo – retiraram aos encarnados o pouco que haviam tido nos quase 70 minutos que tinham sido jogados até então: algum sentido coletivo.
Num ou noutro lance, Bruma agitou as águas e não faltou abnegação a Belotti, mas faltou-lhes o entrosamento que ninguém lhes podia pedir com um par de treinos desde que chegaram à equipa.
O golo aos 85 do Moreirense, que merecia mais do que o nada que levou da Luz, fez com que a reta final do jogo fosse de tremendo nervosismo nas bancadas. Assobios, gritos de pavor e silêncios de suspense. Houve de tudo.
Os homens de Bruno Lage sofreram, mas seguraram a vitória, em mais um jogo em que mostraram que tanto são capazes de discutir jogos com as maiores equipas europeias como de ser vulneráveis perante conjuntos com recursos muito mais limitados.
Os adeptos do Benfica começam a habituar-se a esta anormalidade.
Mas quanto tempo é possível viver-se (e vencer-se) assim?
Fonte: Mais Futebol