FMI descarta recessão iminente, apesar das incertezas geradas pelas tarifas de Trump

0
31

A Directora- Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que a instituição não antevê uma recessão global no curto prazo, apesar do aumento das tensões comerciais e da incerteza gerada pelas novas tarifas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Em entrevista concedida no âmbito do evento Reuters NEXT Newsmaker, Georgieva reconheceu que o ritmo imprevisível das medidas comerciais tem afectado a confiança dos investidores e dos consumidores, mas sublinhou que os impactos económicos até agora permanecem moderados.

“O que vemos nos indicadores de alta frequência é uma ligeira deterioração da confiança, mas não há sinais de impacto dramático que conduzam a uma recessão iminente”, declarou a responsável do FMI.

O Fundo prevê uma pequena revisão em baixa das suas projecções na actualização das Perspectivas Económicas Mundiais (WEO) a divulgar em Abril, durante as reuniões da primavera da instituição em Washington. A última estimativa, de Janeiro, apontava para um crescimento global de 3,3% em 2025, com destaque para a revisão em alta da economia dos EUA, então projectada em 2,7%.

Tarifas e dívida: riscos no horizonte

Georgieva alertou, contudo, para o facto de muitos países terem esgotado o seu espaço orçamental e monetário durante a pandemia da COVID-19, enfrentando agora níveis de endividamento elevados que limitam a sua capacidade de resposta a choques futuros.

Além disso, advertiu que a incerteza prolongada quanto à política tarifária de Trump poderá fragilizar ainda mais o crescimento global. Desde o seu regresso à Casa Branca, em Janeiro, o presidente norte-americano implementou ou ameaçou tarifas sobre um vasto leque de parceiros e produtos — da China ao Canadá, do alumínio aos automóveis.

“Quanto mais demorar a clarificação das políticas, maior será o impacto negativo sobre o crescimento. A incerteza é corrosiva”, afirmou Georgieva.

Resiliência do comércio global e reformas internas

Apesar das tensões, Georgieva destacou a resiliência do comércio mundial, que tem vindo a adaptar-se a uma nova realidade marcada pelo proteccionismo e pela reorganização das cadeias globais de valor. O comércio de serviços, por exemplo, está a crescer mais rapidamente do que o de mercadorias.

Os países de pequena e média dimensão estão a reforçar colaborações bilaterais e a concentrar-se em reformas estruturais internas, visando aumentar a sua resistência económica — o que, segundo a dirigente do FMI, constitui “uma consequência positiva da turbulência actual”.

Relação com os EUA continua sólida

Georgieva confirmou ainda ter tido uma reunião “muito construtiva” com o novo Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, destacando o reconhecimento mútuo da importância do FMI na arquitectura financeira internacional.

“Os Estados Unidos são o maior accionista do FMI e têm beneficiado dos seus recursos. Actuamos como uma espécie de conta poupança estratégica”, disse Georgieva, lembrando que os EUA obtiveram ganhos de 3,2 mil milhões de dólares nos últimos dois anos por via da sua participação na instituição.

 

 

Fonte: O Económico

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!