«João Moutinho pode dar um bom treinador, agora Amorim… nada previa isto»

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Miguel Moita (Arquivo pessoal)

Licenciado em Educação Física pela Universidade do Porto, trabalhou durante 16 anos ao lado de Leonardo Jardim. Foi do Desp. Chaves ao Mónaco, passou pelo Beira-Mar, Sp. Braga e Olympiakos, esteve no Sporting e teve as últimas experiências no Al-Hilal, Al-Ahli e Al-Rayyan.

Fez, por isso, parte da conquista da Liga dos Campeões Asiática em 2021 e dos campeonatos da Grécia, França, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Trabalhou de perto com estrelas como Mbappé ou Bernardo Silva, Falcão ou Fabinho, até com nomes grandes como Ruben Amorim e Nuno Gomes. Agora, aos 41 anos, assume o desejo de se tornar treinador principal.

O Maisfutebol esteve à conversa com ele e, nesta primeira parte, Miguel Moita recorda os primeiros anos de carreira e relata algumas experiências inesquecíveis.

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Quando entrei na faculdade a minha ideia até nem passava pelo mundo do futebol. Queria ser professor de educação física. No entanto, alguns professores mudaram-me as ideias e o bichinho foi crescendo. Depois, um conjunto de coincidências levaram-me à primeira oportunidade que acabou por surgir no Desp. Chaves, e a trabalhar em conjunto com o Leonardo Jardim.

Foi a partir de um ex-adjunto do Leonardo, que foi fazer o trabalho de mestrado à faculdade onde eu estava. Começámos a conviver normalmente, no tempo em que eu estava a tirar a licenciatura. Até que o Leonardo Jardim chegou a Chaves e precisava de alguém para fazer análise. Falou com o meu colega e eu não desperdicei a oportunidade. Quando comecei ainda estava na faculdade e ia fazendo a análise dos adversários. Foram uma série de coincidências que acabaram por levar à minha entrada no mundo do futebol. Depois, já a trabalhar lá, acabei por começar a fazer um pouco de tudo. Tanto trabalho de preparação física, como de analista.

Esse ano foi fantástico. O Sp. Braga é um clube que se encontra num patamar médio-alto e que  a nível de projeção, alerta muitos outros clubes quando se faz um bom trabalho. Tínhamos um grupo fantástico e existiam jogadores verdadeiramente fenomenais, tanto a nível desportivo como pessoal. Um deles é o Ruben Amorim, o Ukra também. Eram jogadores que davam uma alegria imensa no balneário, mesmo em momentos de tensão. Até aos dias de hoje não me lembro de ter contactado com pessoas como eles nesse sentido. Além disso, também tinhamos alguns jogadores brasileiros que davam uma magia suplementar, que se complementavam muito bem. Tínhamos o Mossoró, mais extrovertido, o Lima, mais calmo e tranquilo, por exemplo. Parecia que tudo se complementava naquele ano. Alicerçado com o nosso trabalho e o nosso rigor, assente num modelo de jogo muito realista, conseguimos ser muito competitivos e chegar ao terceiro lugar, mesmo não tendo as mesmas bases do FC Porto, Benfica ou Sporting.

Eu acho que não havia equação que previsse isso. A verdade é que olhamos para certas pessoas e pensamos mais a fundo nessa questão. Por exemplo, um jogador que sempre me despertou esse pensamento foi o João Moutinho, que apanhei no Mónaco. O Moutinho tem tudo para dar um bom treinador, se olharmos para a vertente do treino, para a vertente desportiva, para o jogo em si. Eu não sei se um dia irá querer isso sequer ou se vai ter sucesso, mas a verdade é que com o Ruben Amorim eu não imaginaria, nem sequer pensava. Aquilo que eu sei é que ele tinha uma leitura de jogo fenomenal e era uma pessoa que contagiava os outros. Tinha uma química fantástica e punha o grupo em êxtase. À medida que o final da carreira se aproxima, essas ideias também vão florescendo e foi provavelmente isso que foi sucedendo. No entanto, o sentido posicional que ele tinha, a maneira como lia o jogo e a compreensão que tinha em relação ao trabalho dos colegas sempre foi fenomenal. Sempre dominou muito bem essas matérias e isso reflete-se na forma dele treinar hoje. Mas realmente não era alguém que eu projetava dessa forma.

O ano em Braga despertou a atenção de vários clubes. Até surgiu a hipótese do FC. Porto mas depois acabámos por ir para a Grécia, para o Olympiakos, e acabou por ser muito positivo. Foi o nossa primeira experiência no estrangeiro e logo no maior clube da Grécia. O apoio que a equipa tem é extraordinário. Sentimos pela primeira vez aquilo que é um clube grande, a pressão dos adeptos, o estádio sempre a abarrotar. Era tudo muito sentido e vivido por todos. No entanto, com 10 pontos de avanço em janeiro acabámos por ver a experiência acabar. O presidente e o diretor desportivo queriam que alguns jogadores jogassem mais, a equipa técnica não concordava propriamente com isso e tentava manter um equilíbrio. Não foi possível.

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Fonte: Mais Futebol

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