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A Comissão Europeia iniciou uma ofensiva estratégica junto às maiores empresas da União Europeia, exigindo a apresentação imediata de planos concretos de investimento nos Estados Unidos. A acção visa preparar o terreno para novas negociações com Washington e mitigar a ameaça de tarifas punitivas anunciadas por Donald Trump, num ambiente de tensões comerciais crescentes e incerteza empresarial.
Em antecipação às conversações comerciais com os Estados Unidos, Bruxelas enviou questionários a membros da BusinessEurope — aliança que reúne 42 federações industriais da UE — e à European Round Table for Industry, pedindo dados sobre intenções de investimento em território norte-americano nos próximos cinco anos. A iniciativa partiu directamente da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, segundo fontes internas.
A decisão surge na sequência do recuo de Donald Trump em relação à imposição de tarifas de 50% sobre produtos da UE, anteriormente prevista para entrar em vigor a 1 de Junho. Após um telefonema com von der Leyen, Trump considerou a retoma das conversações um “evento positivo” e expressou esperança de que a Europa se “abra ao comércio” com os EUA.
A reacção dos mercados foi imediata: os principais índices bolsistas globais registaram fortes ganhos, com o S&P 500 a subir 2%, o maior avanço em duas semanas.
Contudo, o ambiente empresarial continua a ser marcado pela incerteza. Um inquérito da Câmara de Comércio e Indústria da Alemanha revelou que, embora 24% das empresas planeiem aumentar investimentos nos EUA, 29% estão a reduzi-los — sinal claro do impacto da instabilidade geopolítica e das políticas comerciais erráticas da administração norte-americana.
Do lado europeu, o objectivo é demonstrar o valor estratégico das relações económicas transatlânticas e convencer Washington de que o investimento europeu é parte integrante da agenda de reindustrialização dos EUA. Empresas como Roche, Novartis e Sanofi já anunciaram planos de investimento superiores a 90 mil milhões de dólares até 2030. Ainda assim, essas intenções podem ser revistas à luz de políticas proteccionistas e medidas como a ordem executiva sobre preços de medicamentos.
Paralelamente, líderes do Sudeste Asiático reunidos em Kuala Lumpur acordaram em não celebrar acordos bilaterais com os EUA que prejudiquem os seus vizinhos, em resposta à ameaça de tarifas entre 32% e 49% sobre produtos da região.
A movimentação de Bruxelas marca uma tentativa de alinhar esforços empresariais com a diplomacia económica, evidenciando o uso estratégico do investimento privado como ferramenta de negociação geopolítica. No entanto, subsistem riscos de fragmentação e reacções nacionalistas, tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Fonte: O Económico