Resumo
A insegurança e violações dos direitos humanos em El Fasher, Darfur, estão a forçar milhares de famílias a fugir, sem acesso a água, alimentos ou cuidados médicos. Cerca de 11 milhões de mulheres e meninas enfrentam insegurança alimentar aguda no Sudão. O deslocamento em massa e o colapso da ajuda humanitária ameaçam a situação, com 90 mil pessoas deslocadas em El Fasher nos últimos 15 dias. A OIM alerta que as operações humanitárias estão em risco de rutura, com armazéns vazios e falta de segurança para os comboios de ajuda. Apesar disso, continuam as operações de emergência, incluindo ajuda para 7.500 pessoas em Tawila e projetos de acesso a água, saneamento e saúde para 60 mil pessoas em Darfur. É urgente agir para evitar uma catástrofe maior.
Ao mesmo tempo, a ONU Mulheres revela que quase 11 milhões de mulheres e meninas estão em situação de insegurança alimentar aguda, com a fome e a violência a afetarem de forma desproporcional as mulheres em todo o país.
Deslocamento em massa e colapso da ajuda humanitária
Amy Pope, diretora-geral da Organização Internacional para Migrações, OIM, afirmou durante visita ao Sudão que sem acesso seguro e financiamento urgente, as operações humanitárias podem colapsar exatamente quando as comunidades mais precisam de ajuda.
Nos últimos 15 dias, cerca de 90 mil pessoas foram deslocadas devido a intensos ataques e combates em El Fasher. Dezenas de milhares continuam presas dentro da cidade, onde hospitais, mercados e sistemas de abastecimento de água entraram em colapso, levando a condições semelhantes à fome.
A violência alastrou também a outras regiões: entre 26 de outubro e 9 de novembro, quase 39 mil pessoas fugiram de combates no Norte de Kordofan, muitas percorrendo longas distâncias a pé, dormindo ao relento e sem acesso a alimentos.
Emergência
A OIM alerta que as operações humanitárias estão à beira da rutura, com armazéns quase vazios e comboios de ajuda bloqueados por falta de segurança. Ainda assim, a agência mantém operações de emergência, incluindo o envio de um comboio de Porto Sudão com abrigo e bens essenciais para 7.500 pessoas deslocadas em Tawila, além de projetos que garantem acesso a água, saneamento e serviços de saúde a 60 mil pessoas no Darfur.
Pope reforça que “o mundo deve agir agora para evitar uma catástrofe ainda maior” apelando a um aumento imediato do financiamento e ao acesso humanitário seguro.
As primeiras vítimas da fome e da violência
De Genebra, Anna Mutavati, diretora regional da ONU Mulheres para a África Oriental e Austral, sublinhou que a fome no Sudão tem rosto feminino.
O novo alerta de género da agência, Gender Dimensions of Food Insecurity in Sudan, revela que 73,7% das mulheres não cumprem os padrões mínimos de dieta, um sinal de desnutrição severa e risco crescente de mortalidade. O relatório ressalta que “ser mulher no Sudão é, neste momento, um dos principais fatores de risco para morrer de fome”.
Em Darfur e Kordofan, as mulheres são as últimas a comer, e muitas vezes não comem nada. Segundo os relatos recolhidos, elas saltam refeições para alimentar os filhos, e adolescentes recebem as menores porções, comprometendo a saúde a longo prazo. Outras arriscam a vida para recolher folhas e bagas selvagens em zonas cercadas, onde são frequentemente vítimas de raptos e violência sexual.
Com a fome oficialmente declarada em El Fasher e Kadugli, mulheres e meninas enfrentam um cenário arrasador: partos nas ruas após o saque e destruição do último hospital de maternidade, desaparecimento de filhos durante fugas caóticas e ausência quase total de apoio psicológico.
Apelos urgentes por paz e proteção
A ONU Mulheres apelou a um cessar-fogo imediato e à criação de corredores humanitários seguros, enfatizando que as organizações lideradas por mulheres continuam a ser a base da resposta humanitária no terreno.
A agência insta ainda os doadores a reconhecer, financiar e apoiar diretamente essas organizações, que permanecem ativas apesar das condições extremas.
Enquanto a guerra e a fome avançam lado a lado, a ONU alerta que o futuro de milhões de sudaneses, especialmente mulheres e crianças, depende de uma resposta internacional urgente, coordenada e sustentada para restaurar a segurança, a dignidade e a esperança no país.
Fonte: ONU






