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Tuesday, November 18, 2025
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Certificação Empresarial Ganha Força e Expõe Fragilidades Estruturais da Economia Moçambicana

Resumo

A 2.ª Conferência Nacional de Normalização e Qualidade em Maputo destacou a importância da certificação empresarial para a competitividade da economia moçambicana. Apesar do consenso sobre a relevância da certificação, existem fragilidades estruturais que dificultam a adopção de padrões internacionais, especialmente para as PMEs. A normalização, certificação e metrologia foram discutidas como fundamentais para aumentar a produtividade, reforçar a qualidade e aceder a mercados mais exigentes. A certificação está a tornar-se um critério essencial, não apenas uma vantagem competitiva, devido à implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana e megaprojetos nos setores do gás e energia. A falta de um organismo nacional de acreditação leva as empresas moçambicanas a recorrer a certificadoras estrangeiras, inflacionando os custos e dificultando a certificação para as PMEs.

A 2.ª Conferência Nacional de Normalização e Qualidade, realizada esta segunda-feira em Maputo, evidenciou que a certificação empresarial já não é apenas um requisito técnico, mas uma questão central para a competitividade da economia moçambicana. Apesar do consenso entre Governo, sector privado e academia sobre a sua importância, persistem fragilidades estruturais que dificultam a adopção de padrões internacionais, sobretudo entre as PMEs.

A Normalização como Fundamento de Competitividade

A conferência, organizada pelo Instituto Nacional de Normalização e Qualidade (INNOQ), reuniu decisores públicos, representantes empresariais e gestores de empresas certificadas para discutir o papel estratégico da normalização, certificação e metrologia no aumento da produtividade, no reforço da qualidade e no acesso a mercados mais exigentes. No contexto actual, marcado pela implementação da Zona de Comércio Livre Continental Africana e pela entrada de megaprojectos nos sectores do gás e da energia, a certificação está a tornar-se um critério de elegibilidade, não apenas uma vantagem competitiva.

O Ministro da Economia e Finanças, Basílio Muhate, foi directo ao afirmar que a qualidade é hoje uma questão de sobrevivência para as empresas nacionais. Sem uma infra-estrutura de qualidade sólida, avisou, o país arrisca-se a ser inundado por produtos contrafeitos e de baixa qualidade, comprometendo consumidores e empresas locais. Apesar de Moçambique dispor de mais de 1.700 normas técnicas, apenas cerca de 160 empresas possuem certificação ISO — um número que o INNOQ pretende triplicar nos próximos cinco anos.

Custos Elevados e Dependência Externa Bloqueiam as PMEs

Entre os maiores entraves ao processo de certificação está a inexistência de um organismo nacional de acreditação, o que obriga as empresas moçambicanas a recorrerem a certificadoras estrangeiras. Este recurso externo inflaciona os custos em até 40%, tornando a certificação inacessível para grande parte das PMEs.

O Presidente da CTA, Álvaro Massingue, salientou que, sem incentivos financeiros e fiscais, as empresas não terão capacidade de aceder a certificações. As próprias empresas referem que os custos de consultoria, auditoria, treino de quadros e adequação interna constituem pesos significativos, frequentemente impossíveis de suportar para negócios ainda em fase de consolidação.

Ainda assim, as empresas que já completaram o processo reconhecem ganhos substanciais. A certificação permite maior disciplina organizacional, clareza de processos e reforço do controlo interno, ao mesmo tempo que abre portas para contratos em sectores regulados e para cadeias de valor mais exigentes. No entanto, para muitas empresas que lutam mensalmente para garantir salários e tesouraria mínima, a certificação continua a surgir como prioridade adiada.

Qualidade Como Estratégia Estrutural, Não Como Custo

A académica Regina de Barros reforçou que a certificação deve deixar de ser vista como despesa e passar a ser entendida como investimento estratégico. Um sistema de gestão da qualidade melhora a previsibilidade, reduz riscos, fortalece o negócio e cria condições mais sólidas para a sustentabilidade empresarial.

Também o empresário Munir Sakur assinalou que a cultura de qualidade em Moçambique está a evoluir de forma gradual. Há uma década, a certificação era quase desconhecida; hoje, começa a ganhar espaço no vocabulário e nas práticas das empresas, uma mudança que abre caminho para maior maturidade organizacional.

A questão central é que a competitividade global não admite margens largas de erro nem empresas com processos informais. A certificação, ao impor rigor e consistência, torna-se ferramenta indispensável para a industrialização, para o posicionamento competitivo e para a proteção do consumidor. O desafio que permanece é conseguir transformar esta consciência colectiva num avanço massificado entre as PMEs — o coração da economia moçambicana.

Num ambiente económico cada vez mais exigente e globalizado, a certificação surge como elemento decisivo para garantir confiança, qualidade e competitividade. O grande desafio, agora, é transformar esta agenda em prática concreta, sobretudo entre as PMEs, que continuam a ser o verdadeiro motor do tecido empresarial moçambicano.

Fonte: O Económico

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