As sucessivas alterações à política tarifária dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump colocaram a cadeia global de fornecimento da indústria aeronáutica sob pressão. Com tarifas intermitentes, incerteza legal e custos acrescidos, as entregas de aeronaves como o A220 da Airbus à Delta Air Lines enfrentam atrasos e impasses, enquanto fabricantes, operadores e governos procuram adaptar-se a um cenário volátil e imprevisível.
Sector aeroespacial sob ameaça de tarifas variáveis
A instabilidade tarifária introduzida pela Casa Branca atingiu, directa ou indirectamente, sectores que até então estavam relativamente protegidos. A indústria aeronáutica, tradicionalmente abrangida por tratados de isenção alfandegária como o Acordo de 1979 entre EUA e Canadá, começou a ressentir-se de alterações constantes e pouco previsíveis no enquadramento tarifário.
Embora os aviões e os seus motores não tenham sido, inicialmente, alvo directo das tarifas impostas por Trump, o ambiente de ambiguidade e flutuação constante das regras comerciais tem gerado atrasos nas entregas, retenções logísticas e incerteza jurídica.
Equipamentos e bens industriais têm-se acumulado em portos, armazéns e vagões ferroviários, enquanto as empresas lutam para comprovar conformidade com as exigências do novo Acordo EUA-México-Canadá (USMCA).
O caso da Delta e do A220 da Airbus: incerteza em tempo rea
Mudanças súbitas nas tarifas ameaçam entregas, aumentam custos logísticos e criam tensão entre fabricantes e companhias aéreas
As sucessivas alterações à política tarifária dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump colocaram a cadeia global de fornecimento da indústria aeronáutica sob pressão. Com tarifas intermitentes, incerteza legal e custos acrescidos, as entregas de aeronaves como o A220 da Airbus à Delta Air Lines enfrentam atrasos e impasses, enquanto fabricantes, operadores e governos procuram adaptar-se a um cenário volátil e imprevisível.
Sector aeroespacial sob ameaça de tarifas variáveis
A instabilidade tarifária introduzida pela Casa Branca atingiu, directa ou indirectamente, sectores que até então estavam relativamente protegidos. A indústria aeronáutica, tradicionalmente abrangida por tratados de isenção alfandegária como o Acordo de 1979 entre EUA e Canadá, começou a ressentir-se de alterações constantes e pouco previsíveis no enquadramento tarifário.
Embora os aviões e os seus motores não tenham sido, inicialmente, alvo directo das tarifas impostas por Trump, o ambiente de ambiguidade e flutuação constante das regras comerciais tem gerado atrasos nas entregas, retenções logísticas e incerteza jurídica.
Equipamentos e bens industriais têm-se acumulado em portos, armazéns e vagões ferroviários, enquanto as empresas lutam para comprovar conformidade com as exigências do novo Acordo EUA-México-Canadá (USMCA).
O caso da Delta e do A220 da Airbus: incerteza em tempo real
Um dos casos mais ilustrativos é o do jacto A220 da Airbus, montado na fábrica de Mirabel, nos arredores de Montreal, e destinado à Delta Air Lines. A entrega do avião de 130 lugares, avaliado em cerca de 40,5 milhões de dólares, foi marcada pela incerteza sobre se seria sujeito ou não a uma tarifa de 25%.
Fontes industriais relataram que a situação tarifária foi descrita como “em constante mutação” numa reunião interna da Airbus. Embora o avião tenha sido considerado em conformidade com o USMCA e, portanto, isento de tarifas, o processo de documentação tornou-se mais complexo e oneroso, obrigando os fabricantes a recorrerem a certificações adicionais nunca antes exigidas.
A Delta, confrontada com a possibilidade de suportar custos acrescidos significativos, reagiu de forma firme: “Somos muito claros quanto ao facto de não pagarmos tarifas sobre quaisquer entregas de aviões”, declarou Ed Bastian, CEO da companhia aérea. A posição levou a Delta a anunciar o adiamento de entregas, priorizando a contenção de custos num contexto de procura abrandada por viagens aéreas.
Impacto transversal na cadeia de valor
A incerteza gerada pelas políticas tarifárias não se limitou aos aviões. Componentes essenciais, como motores produzidos por unidades canadianas da RTX, também sofreram atrasos temporários enquanto as empresas tratavam de documentação para provar a conformidade com as novas regras. O caso mostra como mesmo sectores tecnologicamente avançados e integrados por tratados multilaterais não estão imunes à instabilidade política e comercial.
Guillaume Faury, director executivo da Airbus, chegou a admitir a possibilidade de redireccionar entregas para fora dos Estados Unidos caso as tarifas afectassem a previsibilidade do negócio. A medida teria implicações directas nas relações comerciais e industriais entre a América do Norte e a Europa.
Política em ziguezague: da ameaça à suspensão em 90 dias
O padrão errático das decisões da Casa Branca agravou ainda mais o cenário. Em Fevereiro, Trump ameaçou aplicar tarifas a produtos do Canadá e do México. Dias depois, adiou a medida por 30 dias e, a seguir, anunciou isenções para produtos em conformidade com o USMCA. Já em Abril, ordenou uma pausa de 90 dias sobre várias tarifas, gerando novo ciclo de incerteza quando o secretário do Tesouro sugeriu que o Canadá poderia voltar a ser alvo, antes de um recuo da própria Casa Branca.
Este comportamento errático minou a previsibilidade para a indústria e afectou decisões de investimento, planeamento de entregas e estratégias logísticas.
Risco sistémico e chamada de atenção para Washington
No final de 2024, a Delta previa a recepção de 43 aeronaves da Airbus, algumas das quais oriundas de linhas de produção fora dos EUA. Com a incerteza tarifária instalada, o CEO da Delta lançou um apelo directo: “Espero que os nossos líderes em Washington estejam atentos”.
A combinação de guerra comercial, tarifas imprevisíveis e desaceleração da procura por viagens está a gerar um ambiente que o próprio sector classifica como de “incerteza sem precedentes”.
Voar num céu sem radar
O caso da política tarifária de Trump demonstra como as decisões comerciais unilaterais, mal coordenadas e voláteis podem paralisar sectores altamente estratégicos e globalmente integrados, como o da aviação. Além de expor fabricantes e operadores a riscos financeiros inesperados, o cenário põe em causa décadas de previsibilidade jurídica baseada em acordos internacionais.
A médio prazo, a permanência de tais incertezas pode levar a deslocalizações de produção, revisão de contratos internacionais e realinhamentos nas cadeias logísticas globais, com impacto profundo na geoeconomia do sector aeroespacial.
Um dos casos mais ilustrativos é o do jacto A220 da Airbus, montado na fábrica de Mirabel, nos arredores de Montreal, e destinado à Delta Air Lines. A entrega do avião de 130 lugares, avaliado em cerca de 40,5 milhões de dólares, foi marcada pela incerteza sobre se seria sujeito ou não a uma tarifa de 25%.
Fontes industriais relataram que a situação tarifária foi descrita como “em constante mutação” numa reunião interna da Airbus. Embora o avião tenha sido considerado em conformidade com o USMCA e, portanto, isento de tarifas, o processo de documentação tornou-se mais complexo e oneroso, obrigando os fabricantes a recorrerem a certificações adicionais nunca antes exigidas.
A Delta, confrontada com a possibilidade de suportar custos acrescidos significativos, reagiu de forma firme: “Somos muito claros quanto ao facto de não pagarmos tarifas sobre quaisquer entregas de aviões”, declarou Ed Bastian, CEO da companhia aérea. A posição levou a Delta a anunciar o adiamento de entregas, priorizando a contenção de custos num contexto de procura abrandada por viagens aéreas.
Impacto transversal na cadeia de valor
A incerteza gerada pelas políticas tarifárias não se limitou aos aviões. Componentes essenciais, como motores produzidos por unidades canadianas da RTX, também sofreram atrasos temporários enquanto as empresas tratavam de documentação para provar a conformidade com as novas regras. O caso mostra como mesmo sectores tecnologicamente avançados e integrados por tratados multilaterais não estão imunes à instabilidade política e comercial.
Guillaume Faury, director executivo da Airbus, chegou a admitir a possibilidade de redireccionar entregas para fora dos Estados Unidos caso as tarifas afectassem a previsibilidade do negócio. A medida teria implicações directas nas relações comerciais e industriais entre a América do Norte e a Europa.
Política em ziguezague: da ameaça à suspensão em 90 dias
O padrão errático das decisões da Casa Branca agravou ainda mais o cenário. Em Fevereiro, Trump ameaçou aplicar tarifas a produtos do Canadá e do México. Dias depois, adiou a medida por 30 dias e, a seguir, anunciou isenções para produtos em conformidade com o USMCA. Já em Abril, ordenou uma pausa de 90 dias sobre várias tarifas, gerando novo ciclo de incerteza quando o secretário do Tesouro sugeriu que o Canadá poderia voltar a ser alvo, antes de um recuo da própria Casa Branca.
Este comportamento errático minou a previsibilidade para a indústria e afectou decisões de investimento, planeamento de entregas e estratégias logísticas.
Risco sistémico e chamada de atenção para Washington
No final de 2024, a Delta previa a recepção de 43 aeronaves da Airbus, algumas das quais oriundas de linhas de produção fora dos EUA. Com a incerteza tarifária instalada, o CEO da Delta lançou um apelo directo: “Espero que os nossos líderes em Washington estejam atentos”.
A combinação de guerra comercial, tarifas imprevisíveis e desaceleração da procura por viagens está a gerar um ambiente que o próprio sector classifica como de “incerteza sem precedentes”.
Voar num céu sem radar
O caso da política tarifária de Trump demonstra como as decisões comerciais unilaterais, mal coordenadas e voláteis podem paralisar sectores altamente estratégicos e globalmente integrados, como o da aviação. Além de expor fabricantes e operadores a riscos financeiros inesperados, o cenário põe em causa décadas de previsibilidade jurídica baseada em acordos internacionais.
<
p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>A médio prazo, a permanência de tais incertezas pode levar a deslocalizações de produção, revisão de contratos internacionais e realinhamentos nas cadeias logísticas globais, com impacto profundo na geoeconomia do sector aeroespacial.
Fonte: O Económico