Resumo
A cólera permanece como uma ameaça ativa devido à falta de água potável, saneamento e higiene, levando a um aumento de casos e mortes em 2024. Apesar de ser uma doença com mecanismos de prevenção conhecidos, a sua persistência está relacionada com a incapacidade de transformar esse conhecimento em políticas públicas eficazes. A falta de investimento em saneamento expõe as populações a riscos, tornando os surtos previsíveis em situações de cheias ou crescimento urbano desordenado. A recorrência da cólera reflete desigualdades estruturais e falhas na prestação de serviços básicos pelo poder público. A responsabilidade recai nas entidades públicas para quebrar este ciclo, garantindo acesso à água potável e saneamento adequado e adotando medidas preventivas em vez de apenas reagir aos surtos.
A cólera permanece uma ameaça activa em pleno século XXI. Os dados globais mais recentes apontam para um aumento de casos e mortes em 2024, confirmando que esta doença continua directamente ligada à falta de água potável, saneamento e condições mínimas de higiene.
Ao contrário de muitas enfermidades complexas, a cólera tem mecanismos de prevenção bem conhecidos. O que falha, repetidamente, não é o conhecimento científico, mas a capacidade de transformar esse conhecimento em políticas públicas eficazes e duradouras. Onde não há investimento regular em saneamento, as populações ficam expostas a riscos permanentes.
Em contextos de cheias ou crescimento urbano desordenado, os surtos tornam-se quase previsíveis. A repetição desses episódios transforma a cólera num indicador claro de desigualdade estrutural e de insuficiência do poder público em assegurar serviços básicos.
A responsabilidade não pode ser diluída apenas nas condições naturais ou em crises pontuais. A persistência da cólera expõe opções de investimento insuficientes, ausência de planeamento urbano eficaz e fraca fiscalização dos serviços de abastecimento de água e saneamento. Quando a doença reaparece ano após ano nos mesmos territórios, existe uma falha prolongada de governação.
Apesar da existência de vacinas, de tratamento eficaz e de protocolos de emergência, grande parte das respostas continua a ser reactiva. Controla-se o surto, mas não se eliminam as causas. A responsabilização das entidades públicas é essencial para quebrar este ciclo.
Enquanto o acesso à água potável e ao saneamento continuar a ser uma carência, a cólera continuará a surgir como um sinal inequívoco de negligência colectiva e de fragilidade na gestão dos serviços essenciais.






