Destaques
A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) celebrou meio século de operação com uma conferência internacional em Maputo que mobilizou representantes de alto nível dos governos da região, das principais empresas eléctricas da África Austral e especialistas em energia e clima. Mais do que uma celebração, o evento marcou uma inflexão estratégica para a modernização do sector energético e a reafirmação de Moçambique como centro nevrálgico da segurança energética regional.
Um marco com olhos postos no futuro
No seu discurso de abertura, o Presidente da República, Daniel Chapo, exaltou a importância da HCB como empresa “estratégica e estruturante” e destacou a pertinência dos temas da conferência: o papel das centrais hidroeléctricas no desenvolvimento das economias e os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
“Ao realizar esta conferência, a HCB revela a sua preocupação incessante com a partilha de experiências e com a gestão atenta às mudanças climáticas que desafiam as centrais hídricas”, afirmou o Chefe de Estado.
O Presidente alertou que, embora a produção da HCB se mantenha nos 2.075 MW desde 1975, os desafios actuais exigem investimentos urgentes na reabilitação e modernização dos equipamentos. Defendeu ainda a expansão da capacidade instalada como base para que Moçambique se afirme como hub energético da África Austral, integrando mais activamente o Southern Africa Power Pool (SAPP).
Integração regional e novos empreendimentos estratégicos
A conferência decorre sob o lema “Ontem, Hoje e o Futuro” e contou com dois painéis principais. O primeiro — “O Papel dos Empreendimentos Hidroeléctricos no Desenvolvimento das Economias da Região” — foi moderado por Lungile Mashele e integrou intervenções de Andrew Etzinger (Eskom, África do Sul), Daniel Catumbela (Prodel, Angola), e Ermínio Chiau (HCB).
O segundo painel, “Desafios da Produção Hidroenergética no Contexto das Mudanças Climáticas”, moderado pelo Prof. Álvaro Carmo Vaz, trouxe à discussão os impactos dos eventos climáticos extremos na gestão de barragens. Participaram Ernest Banda (ZESCO, Zâmbia), Munyaradzi Munodawafa (ZRA) e Nilton Trindade (HCB).
De Cahora Bassa para Mphanda Nkuwa: o novo horizonte hidroeléctrico
Segundo o Presidente Chapo, a HCB é parte activa no desenvolvimento do projecto Mphanda Nkuwa, actualmente em fase de concessão, com previsão de gerar 1.500 MW. Além disso, o Governo projeta novas centrais nas barragens de Boroma, Lupata e Chemba, reforçando o aproveitamento hidroeléctrico do rio Zambeze, que concentra cerca de 80% do potencial hidroenergético nacional.
“Estamos a promover acções que aumentem a nossa capacidade de satisfazer a crescente procura do mercado nacional e regional, com soluções sustentáveis a médio e longo prazos”, sublinhou o Presidente.
Aposta decidida na diversificação energética
Com a ambição de tornar a matriz energética mais limpa e resiliente, Moçambique está a expandir significativamente as energias renováveis. Estão previstos novos projectos solares (como Cuamba II, na província do Niassa), eólicos (com destaque para Inhambane e Namaacha), além da exploração de biomassa e resíduos florestais com potencial para gerar 750 GWh.
De acordo com o Africa Energy Outlook 2024 – Mozambique Special Report, o país poderá atingir 187 GW de capacidade instalada até 2040, representando 20% da produção energética de todo o continente africano.
HCB: de produtora a grande contribuinte
O Presidente do Conselho de Administração da HCB, Tomás Matola, sublinhou a relevância fiscal e económica da empresa:
“Desde 2007 até 2024, a HCB contribuiu com cerca de 115 mil milhões de meticais em impostos e taxas, dos quais 37 mil milhões foram entregues apenas em 2023 e 2024. Fomos reconhecidos pela Autoridade Tributária como o maior contribuinte nacional em 2024”.
Além da componente fiscal, Matola realçou o papel da empresa na consolidação da soberania energética e no financiamento da economia nacional, destacando a necessidade de manter a empresa robusta e competitiva para enfrentar os desafios da nova transição energética.
O desafio colectivo
O Presidente da República encerrou o seu discurso apelando a um engajamento activo nas discussões e à construção colectiva de soluções energéticas duradouras:
“Estamos aqui para pensar em conjunto, lançar ideias, mobilizar recursos e assegurar que a energia seja um factor de transformação real da vida das pessoas e das economias da região.”
A Conferência Internacional dos 50 Anos da HCB significou não é apenas um marco comemorativo, mas um momento de visão estratégica partilhada, em que Moçambique se posiciona com firmeza como actor incontornável no futuro energético de África.
Fonte: O Económico