Resumo
Mais de 500 mil pessoas na província de Gaza enfrentam uma crise de água, percorrendo diariamente entre 15 e 40 quilómetros em busca de água potável. A qualidade da água disponível é baixa, levando as populações a consumir água suja devido à escassez de fontes de água nos distritos de Mapai, Mabalane e Chigubo. Muitos residentes têm de percorrer longas distâncias para obter água, enfrentando temperaturas superiores a 36 graus. A falta de chuva agrava a situação, com comunidades a lutarem para obter água para cozinhar e abeberar o gado. As autoridades locais apontam a necessidade urgente de abrir mais furos de água para ajudar as mais de cinco mil pessoas em situação preocupante, concentrando esforços nos povoados de Machaíla e Hariane.
“Chegámos por volta das 7 horas e há cedência. Há casos em que somos 20, e isso exige a cedência de vez, mas a qualidade de água é baixa; é água suja. Nesta localidade, sofremos com a crise de água”, lamentou uma residente de Mapai.
De acordo, com o director provincial das Obras Públicas, João Chivambo, neste momento, a taxa de cobertura de abastecimento situa-se em 70%, servindo pouco mais de 700 mil pessoas em toda a província.
“A taxa de abastecimento de água rural na nossa província de Gaza é de cerca de 70%, beneficiando cerca de 720 mil pessoas. Com isso, fazemos a diferença de cerca de 1 milhão. Então, está mais do que claro que aproximadamente cerca de 500 mil”, explicou.
Devido à insuficiência de fontes de água nos distritos de Mapai, Mabalane e Chigubo, a população carenciada consome água imprópria e muitos têm de percorrer longas distâncias para encontrar a fonte mais próxima.
Em Mabalane, as comunidades assoladas pela crise de água, na sequência da seca severa, percorrem entre 15 e 40 quilómetros.
“Estamos a passar uma época sem chuva, não há chuva, não há nada nesta zona, nem gado consegue comer, nem nós”, lamentou um morador da comunidade de Niza, em Mabalane.
Mariano, de 57 anos, e seus dois filhos juntaram 50 meticais e percorreram quase 15 quilómetros, e de regresso trazem 50 litros de água, para uma família de seis pessoas. Sendo que, para o abeberamento do gado, a distância sobe para 40 quilómetros debaixo de temperaturas que mantêm uma tendência média diária superior a 36 graus.
“Temos de comprar 25 meticais e uns 10 litros. Saímos às quatro da manhã. Estamos a voltar agora. Mais ou menos uma semana, têm de gerir para pelo menos conseguirem cozinhar. Nem água para tomar banho não consigo ali, só para apanharmos água para cozinhar. Para o abeberamento vamos em baixo, aproximadamente uns 30, 40 quilómetros para conseguirmos água para o gado”, esclareceu.
Já no distrito de Mapai, a administradora do distrito, Maria Helena, afirma que existem, actualmente, mais de cinco mil pessoas em situação preocupante.
“Nós estamos a falar de 28 mil habitantes no distrito, mas a zona mais crítica que estamos a falar de Machaíla, Hariane, são cerca de 5600 pessoas que precisariam do nosso apoio, tendo em conta a aridez dessa área.”
Maria Helena considera que, para minimizar o drama, são necessárias acções com vista à abertura de vários furos, mas as atenções estão viradas aos povoados de Machaíla e Hariane.
“O que significa que com o valor para um furo de água lá, em zonas normais, poderíamos fazer acima de 10 furos. As pessoas diriam que é possível conseguir água a menos disso, a uns 150 metros, é possível sim, e já foi feito esse trabalho, mas, quando se consegue água a 150 metros, é água muito salgada, muito salgada, que não há capacidade de uso, nem pela população, nem pelos animais”, frisou.
A situação repete-se no distrito de Chigubo, onde estão na linha vermelha quatro comunidades. A informação foi confirmada pelo administrador, Almeida Guelume.
“Dada a escassez da queda da chuva, percorremos de 10 a 15 quilómetros. Então, achamos que nós, pelo trabalho que podemos fazer, vamos reduzir cada vez mais as distâncias, em Chove, temos a comunidade de Mangunzoane, temos a comunidade de Saúde, temos a comunidade de Madile Mangunzoane, são comunidades com preocupações tremendas. Algumas comunidades, temos algum sistema ali, algum sistema lá, mas essas são as grandes comunidades que nos preocupam neste momento, que são prioridades do nosso processo de governação”, considerou.
Para já, a direcção provincial de obras públicas alega limitações de ordem financeira para levar água às comunidades dos oito distritos que atravessam a crise, justificando que as condições hidrológicas exigem abertura de furos, que chegam a uma profundidade superior a 250 metros.
“Chicualacuala, Massangena, Chigubo, Mapai, Mabalane, incluindo a zona norte dos distritos da zona centro, Guijá, distrito de Chókwè e Chibuto também apresentam uma grande complexidade hidrogeológica. Isto envolve grandes recursos. Ainda temos sistemas de abastecimento de água com unidade de sanitização. O grande desafio que temos com sistemas de abastecimento de água com unidade de salinização é a questão de ser uma tecnologia adoptada recentemente e temos escassez de técnicos ao nível local para assegurar a sua manutenção e funcionalidade, incluindo a questão de aquisição de peças sobressalentes que não é no nosso mercado local”, disse Chivambo.
Enquanto isso, a crise de água aprofunda-se nas comunidades, e a população eleva a voz para exigir do Governo soluções concretas.
“Não há saídas, tendo em conta a seca. Vivemos um martírio e pedimos verdadeiramente que o Governo preste alguma ajuda”, disse Maria Filomena, Residente de Guaiane.
A taxa de cobertura de abastecimento de água na província de Gaza ronda os 70%.
Fonte: O País