A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) reagiu às decisões do Comité de Política Monetária (CPMO), classificando-as como “conservadoras” face às necessidades actuais das empresas e aos desafios económicos do País. A redução da taxa MIMO para 12,25% e dos coeficientes de Reservas Obrigatórias foi considerada positiva, mas insuficiente para responder às exigências impostas pela conjuntura económica e pela crise de liquidez.
Redução da Taxa MIMO Considerada Limitada pela CTA
A redução da taxa MIMO em 50 pontos base é vista como um sinal positivo, mas insuficiente para aliviar a pressão sobre os custos de financiamento das empresas. Para a CTA, uma redução mais significativa seria necessária para garantir maior impacto no estímulo ao crédito e no fomento da actividade económica.
A Confederação alertou para o facto de os bancos comerciais tenderem a priorizar a aquisição de Títulos do Tesouro em detrimento do financiamento ao sector privado, o que limita a circulação de crédito produtivo no mercado.
Aumento da Liquidez Pode Favorecer o Estado em Detrimento das Empresas
A redução dos coeficientes de Reservas Obrigatórias em moeda nacional e estrangeira para 29% e 29,5%, respectivamente, deverá aumentar a liquidez no sistema financeiro. No entanto, a CTA manifestou preocupação com a possibilidade de os recursos libertos serem usados para financiar o défice público, em vez de serem direccionados ao sector produtivo.
A Confederação sublinhou que a liquidez adicional deve ser orientada para apoiar sectores como a agricultura e a indústria transformadora, cruciais para a diversificação económica e a criação de empregos.
Crise de Divisas Continua a Penalizar Empresas
O acesso limitado a divisas mantém-se como um dos principais desafios para as empresas, com facturas de importação no valor acumulado de 410 milhões de dólares pendentes há mais de nove meses.
“Entretanto, no MCI – Mercado Cambial Interbancário, a liquidez continua baixa e com fontes limitadas. Mesmo assim, o Banco de Moçambique sugou moeda externa do mercado através das Reservas Obrigatórias estimadas em 1,8 milhões de dólares. Adicionalmente, o Banco de Moçambique sugou cerca de 286 milhões de dólares através de compras diversas de divisas no mercado”. Afirma a CTA.
A CTA destacou que as compras de divisas pelo Banco de Moçambique, no valor de 2,1 mil milhões de dólares em 2024, contribuíram para esta escassez, apesar de terem reforçado as reservas internacionais, actualmente suficientes para cobrir cinco meses de importações.
A crise de divisas tem afectado directamente a capacidade das empresas de importar matérias-primas e equipamentos essenciais, limitando a produção e a competitividade.
Sectores Produtivos Enfrentam Dificuldades no Acesso a Crédito
Os sectores produtivos, particularmente a agricultura e a indústria transformadora, continuam a enfrentar dificuldades significativas no acesso a crédito. A CTA criticou a ausência de medidas específicas que dinamizem o financiamento a estes sectores, considerados estratégicos para o crescimento económico sustentável de Moçambique.
A Confederação também destacou que as altas taxas de juro e a limitada disponibilidade de crédito comprometem o potencial de expansão e inovação das empresas, particularmente das Pequenas e Médias Empresas (PMEs).
Propõe Medidas Complementares para Reforçar a Economia
A CTA apresentou várias propostas para complementar as medidas do Banco de Moçambique, incluindo a disponibilização temporária de divisas no Mercado Cambial Interbancário (MCI), a implementação de moratórias pelos bancos comerciais para aliviar as empresas afectadas pela instabilidade económica e a aceleração do lançamento do Fundo de Garantia Mutuária para facilitar o acesso ao crédito.
A Confederação defendeu ainda reformas estruturais na política monetária, que incluam reduções mais significativas nas taxas de juro, e pacotes de incentivos direccionados aos sectores produtivos, com particular foco na agricultura e na indústria.
CTA Alerta para Riscos e Desafios Persistentes
A CTA alertou que, embora as medidas do CPMO sejam positivas, a sua eficácia dependerá de factores externos e internos, incluindo a estabilidade política, o impacto das mudanças climáticas e a capacidade do Governo de implementar reformas fiscais. A Confederação reiterou que a transparência no acesso a divisas será crucial para aliviar as tensões económicas e assegurar a retoma da actividade empresarial.
Medidas Positivas, mas Necessárias Reformas Mais Ousadas
A posição da CTA reflecte a necessidade de uma abordagem mais abrangente e ousada para enfrentar os desafios económicos de Moçambique. Apesar de considerar as medidas do Banco de Moçambique como um passo na direcção certa, a Confederação enfatiza que soluções mais agressivas e integradas serão fundamentais para estabilizar a economia, aumentar a liquidez no sector privado e fomentar o crescimento sustentável.
Fonte: O Económico