De Lourenço Marques a Maputo: O Que Ganhámos e o Que Perdemos?

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Por: Gelva Aníbal

Cinquenta anos após a independência, é impossível falar de Moçambique sem olhar para a capital, a antiga Lourenço Marques, hoje Maputo.

Um nome mudou, mas as mudanças mais profundas não foram apenas de nomenclatura. A cidade que foi símbolo de modernidade colonial, hoje enfrenta o desafio de ser símbolo de um país livre, mas ainda preso a velhos fantasmas, desigualdade, corrupção e estagnação.

Durante o período colonial, Lourenço Marques era, aos olhos do mundo, uma “pérola do Índico” limpa, bem planeada, com infraestruturas de qualidade (ainda que, injustamente, exclusivas para a minoria branca). Era um palco montado para impressionar o colono, onde a maioria negra era apenas figurante de uma cidade que não lhe pertencia. A organização urbana, os serviços públicos e a segurança, reflectiam uma lógica segregacionista, mas funcional dentro dos padrões da época.

Com a independência em 1975, a cidade ganha um novo nome, Maputo. Um nome africano, nosso, carregado de esperança, identidade e promessas de um futuro soberano.

Era o símbolo do rompimento com o passado colonial e da entrada num novo capítulo de autodeterminação e desenvolvimento. No entanto, a libertação política não veio acompanhada de uma libertação económica ou de uma gestão eficaz da cidade.

Hoje, Maputo é uma cidade que carrega as cicatrizes da guerra civil, da má governação e das promessas não cumpridas. O que era símbolo de ordem, hoje é reflexo de caos, estradas esburacadas, transporte público desorganizado, lixo nas ruas, bairros periféricos abandonados.

A cidade cresceu, sim, mas cresceu desigualmente. Tornou-se mais africana, mais nossa, mas será que se tornou melhor? De que serve a independência se a qualidade de vida do cidadão comum piorou? Se antes a cidade era exclusiva, hoje é inclusiva, mas à custa da degradação. Faltou continuidade de infraestruturas, planeamento urbano, ética na administração pública.

É verdade que Lourenço Marques não era perfeita, era racista, excludente e profundamente injusta. Mas era funcional. Maputo é livre, mas é desorganizada. É nossa, mas nos desafia todos os dias a perguntar, será esta a cidade que sonhámos em 1975? A independência foi uma conquista monumental, mas ela só terá pleno sentido quando o povo moçambicano sobretudo nas cidades puder viver com dignidade, segurança e esperança. A actual Maputo precisa deixar de sobreviver no passado e começar a construir um futuro melhor, honrando não só os heróis da libertação, mas também o direito do cidadão comum de viver bem no seu próprio país.

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