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Dez Anos Do Acordo De Paris: A Trajectória Mudou, Mas A Economia Global Continua Fora Do Ritmo Climático

Resumo

O Acordo de Paris, adotado há dez anos, evitou um cenário climático extremo, reduzindo o aquecimento global para 2,3°C a 2,9°C se as promessas forem cumpridas. Apesar dos progressos, a transição para tecnologias limpas exige uma transformação económica profunda, reformas financeiras e decisões políticas mais desafiantes. O mundo ainda não reduz as emissões ao ritmo necessário para evitar impactos severos. O desafio atual é alinhar o crescimento económico, financiamento e políticas com a urgência climática. O modelo do Acordo de Paris, baseado em compromissos nacionais voluntários, mostrou-se eficaz, permitindo diferentes níveis de desenvolvimento. A cooperação internacional mudou a trajetória climática, mas os riscos persistem, especialmente para países vulneráveis.

O pacto climático evitou um cenário catastrófico e impulsionou tecnologias limpas, mas a transição exige agora transformação económica profunda, reforma do sistema financeiro e decisões políticas mais difíceis.

Dez anos após a adopção do Acordo de Paris, o balanço global evidencia um contraste marcante entre progresso e insuficiência. O mundo conseguiu afastar-se de um cenário climático extremo, mas permanece desalinhado com o ritmo de redução de emissões necessário para evitar impactos económicos e sociais severos. O desafio deixou de ser conceptual ou tecnológico e tornou-se estrutural: alinhar crescimento económico, financiamento e decisões políticas com a urgência climática.

De Um Cenário Catastrófico Para Uma Trajectória Menos Extrema

Antes de 2015, a trajectória climática global apontava para um aquecimento de quase 5°C até ao final do século, um cenário que implicaria perdas económicas massivas, colapso de ecossistemas, deslocações populacionais em larga escala e riscos sistémicos para a estabilidade financeira global. O Acordo de Paris introduziu um ponto de inflexão ao estabelecer um quadro comum de acção climática, reduzindo drasticamente o risco de um cenário descontrolado.

Dez anos depois, as projecções indicam que, se todas as promessas actualmente assumidas forem integralmente implementadas, o aquecimento poderá situar-se entre 2,3°C e 2,9°C. Embora este intervalo continue a representar riscos elevados — sobretudo para países vulneráveis — ele confirma que a cooperação internacional conseguiu alterar a direcção da trajectória climática, mesmo sem eliminar o perigo.

O Modelo Das Contribuições Nacionais E A Surpresa Tecnológica

O desenho institucional do Acordo de Paris, assente em compromissos nacionais voluntários mas progressivos, revelou-se mais eficaz do que modelos centralizados anteriores. As Contribuições Nacionalmente Determinadas permitiram acomodar diferentes níveis de desenvolvimento económico, ao mesmo tempo que criaram uma dinâmica de revisão periódica da ambição climática.

Em paralelo, a evolução tecnológica superou as expectativas iniciais. O custo da energia solar e eólica caiu mais de 80% em muitas regiões, tornando-as competitivas sem subsídios. Os veículos eléctricos deixaram de ser um produto de nicho e passaram a integrar cadeias industriais globais. Este avanço tecnológico demonstrou que a transição energética não é apenas uma imposição ambiental, mas também um fenómeno económico impulsionado por ganhos de eficiência e inovação.

Metas Climáticas Ainda Distantes Do Ritmo Necessário

Apesar destes avanços, o fosso entre ambição e execução permanece profundo. As actuais metas globais permitiriam alcançar apenas uma fracção — menos de 14% — das reduções de emissões necessárias até 2035 para limitar o aquecimento a 1,5°C. Esta lacuna traduz-se num risco crescente de impactos económicos não lineares, incluindo choques na produção agrícola, perturbações nas cadeias de abastecimento e maior volatilidade financeira.

A insuficiência das metas reflecte, em parte, a dificuldade política de adoptar medidas que afectem sectores económicos consolidados, mas também revela a ausência de mecanismos financeiros e regulatórios suficientemente fortes para acelerar a transição à escala exigida.

Quando O Desafio Climático Se Torna Económico E Financeiro

Com o passar do tempo, tornou-se evidente que o Acordo de Paris não poderia ser apenas um pacto de descarbonização. A transição climática exige uma reconfiguração profunda dos sistemas económicos: infra-estruturas energéticas, modelos industriais, padrões de consumo e sistemas de transporte terão de ser redesenhados.

Este processo requer volumes de investimento sem precedentes. Estimativas internacionais apontam para a necessidade de mobilizar vários biliões de dólares anuais em financiamento climático. O actual sistema financeiro global, no entanto, continua orientado para retornos de curto prazo, dificultando o financiamento de projectos de longo prazo em países em desenvolvimento. A transição climática tornou-se, assim, inseparável da reforma das finanças públicas, do mercado de capitais e do papel dos bancos multilaterais.

Combustíveis Fósseis E O Bloqueio Político À Transição

A resistência do sector dos combustíveis fósseis permanece um dos maiores entraves à aceleração da transição. Apesar da crescente competitividade das energias limpas, petróleo, gás e carvão continuam a beneficiar de subsídios directos e indirectos, bem como de forte influência política.

Este bloqueio manifesta-se de forma clara nas negociações internacionais, onde propostas para uma eliminação gradual dos combustíveis fósseis enfrentam oposição de países produtores e de interesses económicos instalados. O resultado é um desfasamento entre o consenso científico e a capacidade política de agir, prolongando a dependência de modelos energéticos incompatíveis com os objectivos climáticos.

Economias De Rendimento Médio No Centro Da Decisão Global

À medida que as economias avançadas estabilizam ou reduzem as suas emissões, o futuro climático do planeta dependerá cada vez mais das decisões das economias de rendimento médio. Estes países concentram uma parte significativa do crescimento demográfico, industrial e energético global.

Para muitos deles, a transição climática não é apenas uma questão ambiental, mas uma escolha estratégica de desenvolvimento. Investir em energias limpas pode reduzir custos de importação de combustíveis, aumentar a segurança energética e criar novas cadeias de valor industrial. O sucesso ou fracasso da transição dependerá da capacidade de alinhar estas oportunidades económicas com políticas públicas consistentes.

Os Limites Do Multilateralismo Climático Actual

A governação climática internacional enfrenta sinais claros de esgotamento. O princípio do consenso absoluto nas COP tem permitido que minorias bloqueiem decisões estruturais, atrasando respostas colectivas a um problema de natureza sistémica.

Cresce a percepção de que o multilateralismo climático precisa de evoluir, incorporando mecanismos mais flexíveis, maior envolvimento dos ministérios das finanças e uma articulação mais estreita entre políticas macroeconómicas, fiscais e climáticas. Sem essa reforma, o risco é que os compromissos continuem a acumular-se sem tradução efectiva em acção.

O Que Está Em Jogo Para Economias Em Desenvolvimento

Para países em desenvolvimento, como Moçambique, a próxima década será decisiva. A transição climática pode agravar vulnerabilidades económicas se o acesso a financiamento e tecnologia permanecer limitado. Mas pode também representar uma oportunidade para acelerar a electrificação, desenvolver novas indústrias e reforçar a resiliência climática.

O desafio reside em garantir que a transição seja justa, financeiramente viável e integrada nas estratégias nacionais de desenvolvimento, evitando que as exigências climáticas se traduzam em novos constrangimentos ao crescimento económico.

Paris Continua Vivo, Mas A Década Decisiva Está Apenas A Começar

Dez anos depois, o Acordo de Paris continua a ser um pilar indispensável da arquitectura climática global. Demonstrou que a cooperação internacional é possível e que a trajectória pode ser alterada. Contudo, a próxima década exigirá decisões mais difíceis, reformas económicas profundas e uma mobilização financeira à escala do desafio.

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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">A trajectória mudou.
O ritmo, porém, continua insuficiente.

Fonte: O Económico

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