Por: Lurdes Almeida
Ah, dia do Professor. Aquela data mágica em que os professores são lembrados com uma capulana, uma gravata, um bolo caseiro “xiguinha” e, se tiver sorte, um bilhete escrito: “Feliz dia do prefeçor” !” (Mesmo que seja o professor de Matemática).
É o dia em que a escola organiza uma homenagem com direito a um discurso emocionado da directora que começa com “vocês são a base da sociedade” e termina com “mas infelizmente não temos verba para aumento, nem pra trocar o apagador que virou peça de museu”.
O professor, esse ser iluminado, acorda cedo, enfrenta transporte público lotado, dá aula para 60 à 90 alunos, com sono e ainda tem que sorrir quando alguém pergunta com genuína ignorância: “Mas você só trabalha meio período, né?”
Claro! Porque planejar aula, corrigir prova, atender às reclamações dos encarregados indignados e tentar entender o sistema novo de notas que muda toda semana mais que moda de TikTok, tudo isso é feito por telepatia enquanto o professor almoça um pão com badjia e uma garrafa de “frozy” improvisada com água da torneira da escola, servida com elegância num frasco reciclado de refrigerante.
No dia do Professor, ele ganha um marcador de texto e um abraço constrangedor do aluno que passou o ano inteiro chamando a matéria de “inútil”. Mas tudo bem, porque o professor não ensina por reconhecimento, ele ensina por vocação, por amor, pela fácil colocação no mercado, ou talvez por não ter lido bem as cláusulas do contrato. Ou porque acreditou naquela propaganda motivacional da faculdade que dizia: “Seja a diferença!” sem avisar que a diferença seria no salário.
E assim ele segue, firme, com sua caneta vermelha (quando não desaparece misteriosamente), corrigindo redacções que começam com “Era uma vez um planeta chamado Terra que explodiu porque ninguém estudava” e terminam com “fim, espero tirar 10”.
Feliz Dia do Professor. Que sua paciência seja eterna, sua impressora funcione sem sacrifícios humanos, e que um dia, quem sabe, alguém diga: “Você mudou minha vida” e não apenas “Qual é a nota mínima pra passar? Porque minha mãe vai me matar e meu pai vai me cortar a mesada.”