A dívida pública dos países africanos atingiu a marca de 1,2 bilião de dólares, um aumento significativo em relação aos 1,1 biliões registados em Agosto passado, revelou a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) durante o Fórum Africano de Negócios. O agravamento do endividamento no continente reforça as preocupações quanto à sustentabilidade financeira e ao risco de sobre-endividamento de várias economias africanas.
O Secretário Executivo da UNECA, Claver Gatete, sublinhou a necessidade urgente de acções coordenadas entre os credores internacionais e os sectores público e privado africanos para enfrentar este desafio. “A dívida de África atingiu 1,2 biliões de dólares e precisamos de soluções estruturadas, envolvendo parceiros como o Clube de Paris, o Clube de Londres e o sector privado, para garantir um modelo sustentável de financiamento ao desenvolvimento”, alertou Gatete.
A UNECA já havia destacado em Agosto a relevância da dívida como um dos principais entraves ao investimento nos países africanos. De acordo com o organismo, a elevada dívida pública está a criar uma severa crise orçamental, com mais de um terço dos países africanos em risco elevado de sobre-endividamento. Este cenário limita o acesso a novos financiamentos e compromete investimentos essenciais para o crescimento económico.
Défice de financiamento ameaça objectivos de desenvolvimento
Além do peso crescente da dívida, a UNECA revelou que África enfrenta um défice de financiamento anual de 1,3 biliões de dólares para cumprir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. A situação agrava-se com o aumento da pobreza extrema, que já afecta 150 milhões de pessoas e poderá ultrapassar 476 milhões até ao final deste ano, segundo as projecções da ONU.
“Sem acções imediatas, África corre o risco de não alcançar os 17 ODS em 2030”, advertiu Gatete, reforçando a necessidade de reformas fiscais profundas, maior controlo sobre fluxos financeiros ilícitos e alívio da dívida como medidas essenciais para evitar uma crise financeira prolongada.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições multilaterais de financiamento têm sido pressionados a adoptar soluções mais flexíveis para reestruturar a dívida africana, incluindo a realocação de Direitos Especiais de Saque (DES) e a expansão de programas de assistência para os países mais vulneráveis.
Com o aumento contínuo da dívida pública e a limitação do espaço fiscal, os países africanos enfrentam um desafio duplo: garantir o financiamento necessário para o desenvolvimento sem comprometer ainda mais a sua sustentabilidade financeira. A necessidade de um novo modelo de gestão da dívida e de maior coordenação internacional torna-se, assim, um tema central para o futuro económico do continente.
Fonte: O Económico