Tensões EUA–China Voltam a Condicionar os Mercados
A disputa comercial entre os Estados Unidos e a China reacendeu-se depois de Pequim ter acusado Washington de “instigar pânico” em torno das restrições impostas à exportação de metais raros, essenciais à indústria tecnológica.
A resposta chinesa surge a poucos dias de um novo encontro previsto entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump, e reacende receios de desaceleração do comércio global.
“A narrativa dominante continua a ser a das tensões EUA–China. Pequim parece estar a subir o tom para ganhar margem negocial antes da cimeira”, comentou Matt Weller, chefe de pesquisa de mercados da StoneX.
O dólar caiu 0,49% face ao franco suíço, 0,46% face ao iene e 0,33% no índice global DXY, que mede o desempenho da moeda norte-americana contra um cabaz de seis divisas principais.
FED Prepara Novos Cortes de Juros Para Enfrentar Desaceleração
As declarações recentes de Christopher Waller, governador da Fed, confirmam que a autoridade monetária norte-americana poderá reduzir novamente a taxa directora na reunião deste mês, citando “leituras mistas do mercado laboral”.
O também governador Stephen Miran defendeu um ritmo mais agressivo de cortes para 2025, face ao abrandamento do consumo e à perda de dinamismo económico.
O Livro Bege da Fed sinaliza aumento de despedimentos e redução do consumo das famílias de rendimento médio e baixo, um quadro que justifica políticas monetárias mais acomodatícias.
As yields das obrigações do Tesouro a 10 anos mantiveram-se próximas de 4%, pressionando o dólar e reforçando a procura por activos alternativos.
“É difícil encontrar um cenário optimista para o dólar neste momento. O mercado está a deslocar-se para activos que não podem ser facilmente desvalorizados”, observou Dilin Wu, estratega da Pepperstone Research.
Mercados Reagem à Indefinição Política e à Paralisação Governamental
A incerteza foi agravada pelo prolongamento do shutdown do governo norte-americano, já com impacto sobre a publicação de indicadores económicos-chave e sobre a confiança dos investidores.
A ausência de dados oficiais e a paralisação de agências federais contribuem para um ambiente de volatilidade cambial e redução de liquidez nos mercados.
“Estamos num padrão de espera. O shutdown já dura semanas e pode prolongar-se por mais de um mês, com efeitos exponenciais sobre a economia”, acrescentou Weller.
Reacções nas Principais Moedas e Activos de Refúgio
O yen japonês valorizou-se 0,2%, negociando em torno dos 150,06 por dólar, impulsionado pelos comentários do governador do Banco do Japão, Kazuo Ueda, que admite a possibilidade de um aumento de taxas caso as previsões de crescimento e inflação se concretizem.
O euro subiu 0,2% para 1,1708 dólares, enquanto a libra esterlina ganhou 0,1%, apoiada pela estabilidade política no Reino Unido.
Na zona euro, a turbulência política francesa teve impacto limitado, com o primeiro-ministro Sébastien Lecornu a sobreviver a duas moções de censura e a garantir margem para apresentar o orçamento.
Entretanto, o iuane chinês valorizou-se 0,09%, atingindo o nível mais forte em duas semanas, após o Banco Popular da China fixar a taxa de referência diária no ponto mais alto do último ano.
Entre as commodities, o ouro registou ganhos consistentes, enquanto criptomoedas como o bitcoin e o ether voltaram a ser procuradas como refúgio de risco.
Austrália e nova zelândia sentem impacto indireto das tensões comerciais
O dólar australiano recuou 0,48%, para 0,6479 dólares norte-americanos, depois de os dados de emprego mostrarem uma taxa de desemprego no nível mais alto em quatro anos, reforçando a expectativa de mais um corte de 25 pontos-base pela Reserva Federal da Austrália (RBA) em Novembro.
O kiwi neozelandês desvalorizou 0,02%, para 0,5722 dólares, acompanhando a tendência regional e reflectindo a forte correlação entre as moedas do Pacífico e o ritmo da economia chinesa.
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Percepção de Risco Aumenta e Investidores Reavaliam Posições
Com a economia norte-americana a dar sinais de enfraquecimento e o comércio global sob pressão, os analistas apontam para uma reavaliação estrutural das carteiras internacionais.
A procura por ouro, criptoactivos e activos defensivos indica que os investidores estão a procurar protecção contra a volatilidade e o risco cambial.
O índice do dólar (DXY) encerrou a semana em 98,19 pontos, o menor valor desde Julho, com tendência de baixa mantida caso as tensões comerciais e o shutdown persistam.
O enfraquecimento do dólar reflecte uma combinação de fragilidade económica doméstica, tensões geopolíticas e transição de expectativas de política monetária.
A trajectória da moeda norte-americana nas próximas semanas dependerá da evolução das negociações EUA–China, da resposta da Fed e da capacidade do governo norte-americano de restabelecer estabilidade fiscal e institucional.
Fonte: O Económico