Dólar Enfraquece Face a Incertezas Tarifárias e Déficit Fiscal dos EUA

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As recentes oscilações do dólar norte-americano expõem uma crescente erosão da confiança dos mercados na política económica dos EUA. O adiamento das tarifas de 50% sobre importações da União Europeia garantiu um alívio táctico nos mercados accionistas, mas não foi suficiente para inverter a tendência de desvalorização cambial. Com os investidores a reavaliar o risco fiscal e a volatilidade regulatória, o dólar parece perder o estatuto de porto seguro.

No seguimento de um feriado nos Estados Unidos e no Reino Unido, os mercados accionistas globais reagiram positivamente ao anúncio do Presidente Donald Trump de adiar para 9 de Julho a imposição de tarifas de 50% sobre produtos da UE. Os futuros do S&P 500 e Nasdaq 100 subiram 0,9%, sinalizando um início de sessão forte. No entanto, os ganhos não se repercutiram de forma sólida nos mercados cambiais.

O Bloomberg Dollar Spot Index mantém uma trajectória descendente e aponta para a quinta queda mensal consecutiva da moeda norte-americana, algo que não ocorria desde 2017. Analistas atribuem este desempenho a duas fragilidades estruturais: (i) as incertezas comerciais externas, e (ii) a deterioração da situação fiscal interna, marcada pela intenção de prolongar cortes fiscais da era Trump.

“A política errática dos EUA e os crescentes défices gémeos – fiscal e comercial – criam um ambiente de aversão ao risco em relação aos activos denominados em dólares,” comenta David Meier, economista do banco Julius Baer. A perspectiva de um “regime de dólar fraco” ganha força entre investidores institucionais.

Mercados obrigacionistas e procura por refúgios

A instabilidade afectou também os mercados de obrigações. Os juros das obrigações do Tesouro norte-americano de 10 anos caíram cinco pontos base, para 4,46%, sinalizando uma procura acrescida por activos considerados mais seguros. No Japão, o governo deu início a uma reavaliação da sua emissão de dívida, após uma fraca procura na venda de obrigações de 20 anos – o que levou a um recuo acentuado dos rendimentos de longo prazo.

Simultaneamente, o ouro continua a atrair investidores como activo de refúgio, com os preços a manterem-se em máximos históricos, mesmo após uma leve correcção de 0,5% para 3.327,58 dólares por onça. A deslocação da procura de dólares para metais preciosos reforça a leitura de que o estatuto de “porto seguro” da moeda norte-americana está a ser reavaliado.

O papel da política monetária e o dilema do Fed

No horizonte próximo, os investidores esperam dados cruciais como o índice de preços do consumo pessoal (PCE), indicador preferido da Reserva Federal para medir a inflação. Previsto para esta sexta-feira, o dado poderá influenciar a trajectória das taxas de juro, num momento em que o Fed enfrenta o desafio de manter a estabilidade sem sufocar o crescimento.

Para além disso, as declarações de vários membros da Reserva Federal esta semana serão escrutinadas à lupa, dado o papel decisivo que o banco central tem desempenhado na tentativa de manter a confiança dos investidores em meio à instabilidade política da Casa Branca.

A actual dinâmica de mercado reflecte uma conjuntura marcada por desequilíbrio fiscal, imprevisibilidade comercial e sinais de perda de confiança na liderança económica dos EUA. Embora os mercados accionistas possam reagir positivamente a decisões de curto prazo como o adiamento de tarifas, os fundamentos de médio prazo apontam para uma pressão persistente sobre o dólar e uma possível reconfiguração das preferências dos investidores globais.

Com as eleições norte-americanas no horizonte e os desafios fiscais a intensificarem-se, o dólar poderá enfrentar não apenas um momento de correcção, mas o início de uma transição estrutural do seu papel dominante nos mercados internacionais.

Fonte: O Económico

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