O dólar norte-americano interrompeu a sua tendência de ganhos e fechou estável na sessão asiática desta terça-feira, num ambiente marcado pela prudência dos investidores face às declarações de dirigentes da Reserva Federal (Fed), que pediram cautela na trajectória de cortes das taxas de juro.
Após três sessões consecutivas de valorização, o índice do dólar estabilizou em 97,326, reflectindo a leitura de que a Fed poderá abrandar o ritmo de flexibilização monetária. Tony Sycamore, analista de mercado na IG em Sydney, resumiu o sentimento: “O tom ligeiramente mais hawkish dos membros da Fed trouxe uma pausa na tendência recente, obrigando os investidores a reavaliar as suas apostas.”
A reacção foi visível no mercado obrigacionista. Os rendimentos dos títulos do Tesouro a 10 anos subiram para 4,1467%, atingindo máximos de três semanas, enquanto as yields a 2 anos avançaram para 3,6051%, ambas sustentadas por expectativas de uma postura mais firme da Fed.
Os futuros dos Fed Funds, medidos pela ferramenta CME FedWatch, passaram a atribuir 10,2% de probabilidade à manutenção das taxas na reunião de Outubro, contra 8,1% registados na sexta-feira, revelando que os investidores começam a moderar as expectativas de cortes imediatos.
Entre os dirigentes da Fed, as mensagens foram consistentes no apelo à prudência. Alberto Musalem, presidente da Fed de St. Louis e com direito de voto este ano, declarou que o banco central “deve avançar com cautela, dado que a taxa de juro real pode já estar próxima da neutralidade”. Raphael Bostic, da Fed de Atlanta, sublinhou, em entrevista ao Wall Street Journal, que o foco deve continuar a ser a descida da inflação para a meta de 2%, descartando cortes adicionais este ano. Beth Hammack, da Fed de Cleveland, reforçou que “é preciso ser muito cauteloso na remoção da restrição monetária”.
Em contrapartida, o novo governador Stephen Miran argumentou que a Fed está a interpretar mal a rigidez da política actual e corre o risco de enfraquecer o mercado de trabalho caso não adopte cortes agressivos.
Enquanto isso, factores externos adicionaram pressão ao mercado. As negociações no Congresso dos EUA para evitar um shutdown do governo a 30 de Setembro aumentaram a incerteza, ao mesmo tempo que os investidores aguardam a divulgação, ainda esta semana, do índice PCE – o indicador de inflação preferido da Fed.
No mercado de metais preciosos, o ouro beneficiou da instabilidade cambial e do recuo parcial do dólar, atingindo novo máximo histórico de 3.759,02 USD/onça antes de corrigir ligeiramente.
Os índices accionistas norte-americanos reagiram em alta, com o Dow Jones a subir 0,1%, o S&P 500 a avançar 0,4% e o Nasdaq a registar um ganho de 0,7%, num sinal de que a confiança nas perspectivas económicas permanece resiliente, apesar da incerteza monetária.
Fonte: O Económico