Resumo
O mercado cambial global encerrou outubro com incerteza devido à divergência das políticas dos bancos centrais e sinais mistos na economia mundial. O dólar fortaleceu-se após a Reserva Federal dos EUA adotar uma postura mais cautelosa, enquanto o euro se mantém acima de 1,09 USD devido à prudência do Banco Central Europeu. O euro atingiu máximos de vários meses, mas analistas alertam para um possível excesso de otimismo que poderá afetar as exportações. Moedas de commodities como o dólar australiano, canadiano e rand sul-africano registaram ligeira recuperação, mas continuam vulneráveis a choques de liquidez. O mercado cambial global, com transações diárias superiores a 9 triliões de dólares, enfrenta riscos amplificados devido à interligação entre mercados e ao uso de derivados.
Divisas globais oscilam com a divergência das políticas dos bancos centrais e sinais mistos da economia mundial
O mercado cambial global encerra Outubro sob o signo da incerteza. O dólar voltou a ganhar força depois de semanas de recuo, enquanto o euro permanece nos seus níveis mais elevados do ano, num contexto de divergência entre bancos centrais e de expectativas cada vez mais divididas sobre o rumo da economia mundial.
Bancos Centrais Definem o Ritmo da Revalorização do Dólar
A recuperação da moeda norte-americana reflecte a mudança de tom na Reserva Federal (Fed).
Após o corte de juros decidido no início do mês, Jerome Powell sinalizou que a instituição adoptará maior prudência, evitando novos cortes até que os indicadores mostrem enfraquecimento claro da economia.
Esse reposicionamento deu novo fôlego ao dólar face ao iene e às principais moedas emergentes.
Já na Europa, o Banco Central Europeu mantém-se cauteloso, mas sem pressa em cortar taxas, o que tem sustentado o euro acima de 1,09 USD.
Segundo a Convera FX, “o dólar parece ter reencontrado o seu piso técnico, mas o euro beneficia da percepção de disciplina orçamental e de resiliência económica no bloco europeu”.
Euro Mantém-se Firme, Mas Sinais Técnicos Sugerem Excesso de Otimismo
A valorização do euro face às principais moedas comerciais atingiu máximos de vários meses.
Relatórios da Fitch Ratings apontam para um ganho real de mais de 5 % desde o início do ano, impulsionado por fluxos para activos europeus.
Contudo, a força da moeda única pode tornar-se contraproducente: um euro demasiado valorizado pode travar exportações e limitar a recuperação industrial.
Analistas técnicos observam que o movimento recente poderá dar lugar a ajustes de curto prazo, caso a Fed mantenha a pausa nos cortes e os mercados corrijam expectativas de convergência monetária.
Moedas de Commodities Testam Limites da Recuperação
O dólar australiano, o canadiano e o rand sul-africano registam ligeira recuperação, apoiados pela estabilização dos preços do petróleo e dos metais.
Mesmo assim, o movimento continua frágil.
A XE Global observa que “os fluxos para mercados emergentes permanecem altamente voláteis e vulneráveis a choques de liquidez”, o que significa que qualquer endurecimento monetário adicional da Fed poderá inverter o sentido das cotações.
Em África, o rand consolidou-se em torno dos 17,85 por dólar, beneficiando de factores técnicos, mas a volatilidade continua elevada devido à fraca confiança empresarial e ao ambiente político incerto.
Liquidez Global e Dependência dos Derivados Aumentam a Exposição ao Risco
O mercado cambial mundial movimenta hoje mais de 9 triliões de dólares diários, de acordo com o Financial Times.
A maior parte das transacções envolve operações de cobertura e produtos derivados, o que aumenta a interligação entre mercados e amplifica o risco de choques súbitos de liquidez.
O Fundo Monetário Internacional alertou este mês para a necessidade de reforçar mecanismos de supervisão e transparência, face ao risco de que um aperto de liquidez possa provocar deslocamentos bruscos das taxas de câmbio.
Num contexto de taxas ainda elevadas e de procura por activos de refúgio, o dólar volta a posicionar-se como porto seguro preferencial.
Mercados Entram em Fase de Consolidação Cautelosa
Para o último trimestre, as projecções apontam para movimentos contidos, mas assimétricos.
Se a Fed mantiver estabilidade e o BCE persistir na contenção, o dólar tende a consolidar-se e o euro poderá recuar ligeiramente.
Já as moedas emergentes e de matérias-primas continuarão dependentes da procura asiática e da evolução industrial na Europa.
Um abrandamento mais acentuado na China poderá redireccionar capitais para activos seguros, reforçando o dólar e penalizando divisas periféricas.
Pressão Cambial e Implicações Para Economias Dolarizadas
Para países como Moçambique, onde uma parte relevante da dívida e das importações está indexada ao dólar, a valorização da moeda norte-americana pode agravar o custo de financiamento e de importação de combustíveis.
Por outro lado, a estabilização dos preços internacionais decorrente da força do dólar pode atenuar pressões inflacionistas internas.
A evolução da taxa metical/dólar dependerá da gestão cambial do Banco de Moçambique e do comportamento dos fluxos de capitais ligados ao sector energético, factores críticos para o equilíbrio externo.
Volatilidade Contida, Mas Expectativas Em Suspenso
O mês de Outubro fecha com um mercado cambial marcado pela prudência e por sinais de divergência estrutural entre economias desenvolvidas.
O dólar retoma o estatuto de moeda-refúgio, o euro resiste por inércia e as moedas emergentes enfrentam o desafio de manter estabilidade num contexto de liquidez apertada.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Em síntese, a confiança substituiu a euforia: o capital global permanece em modo defensivo, à espera de maior clareza sobre o rumo das políticas monetárias e do crescimento mundial.
Fonte: O Económico





