Por: Gentil Abel
O estágio hospitalar é, para muitos estudantes de medicina, o primeiro contacto real com o exercício da profissão. É nesse espaço que o conhecimento teórico encontra a prática e que o futuro médico começa a desenvolver competências essenciais. No entanto, para muitas estagiárias, essa fase tem sido marcada por experiências de constrangimento dentro das próprias unidades de saúde.
De facto, o ambiente entre estagiárias e algumas enfermeiras é frequentemente tenso. Pequenos erros ou dúvidas comuns no processo de aprendizagem são, por vezes, recebidos com ironia, sarcasmo ou repreensões públicas. Essas atitudes, ainda que pontuais, acabam por criar um clima de desconfiança e afastamento, contrário ao espírito de cooperação que deve prevalecer nos serviços de saúde.
Desta feita, o impacto emocional é significativo. A maioria das estagiárias prefere manter silêncio, com receio de prejudicar a avaliação final ou perder a vaga de estágio. Esse silêncio forçado cria um ciclo de ansiedade e insegurança que afecta não só o desempenho das estudantes, mas também o ambiente de trabalho e a qualidade do atendimento prestado aos pacientes.
Por outro lado, é importante reconhecer que nem todas as experiências seguem esse padrão. Muitos profissionais de enfermagem e medicina mantêm uma relação cordial e colaborativa com os estagiários, oferecendo orientação, paciência e apoio.
Assim sendo, o estágio deve ser um espaço de aprendizagem supervisionada, onde o erro é compreendido como parte natural do processo e não como motivo de punição ou humilhação. As instituições de ensino e as direções hospitalares têm a responsabilidade de acompanhar de perto as relações no terreno, garantindo que o ambiente seja ético, seguro e favorável ao crescimento profissional.
Em suma, o debate sobre o tratamento dado às estagiárias de medicina nos hospitais não deve ser visto como um ataque a categorias profissionais, mas como uma oportunidade de reflexão. Melhorar a comunicação, reforçar a supervisão e promover o respeito mútuo são passos essenciais para assegurar que o futuro da medicina se construa sobre bases sólidas de ética, empatia e cooperação.





