Moçambique acaba de dar um passo audacioso rumo à modernização da sua resposta aos desastres naturais. Um novo projecto, lançado pelo Governo com apoio do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e parceiros tecnológicos da Coreia do Sul, introduz o uso de drones para a previsão, prevenção e gestão de inundações e outros eventos climáticos extremos.
A iniciativa surge no seguimento de fenómenos como o Ciclone Freddy, cujas rajadas ultrapassaram os 213 km/h, acompanhadas de chuvas superiores a 600 mm em certas regiões, com efeitos devastadores sobre vidas humanas e infra-estruturas essenciais – desde estradas e redes eléctricas, a escolas, hospitais, sistemas de água e saneamento.
“Este projecto representa uma viragem estrutural na forma como o país se prepara e responde aos desastres climáticos”, afirmou o Ministro das Telecomunicações e Transformação Digital, Américo Muchanga, durante o lançamento, em Maputo.
Tecnologia para salvar vidas
O plano contempla a disponibilização de quatro drones, entre os quais um modelo de treino, destinados ao mapeamento preciso de áreas vulneráveis, monitorização de níveis de água e obtenção de dados em tempo real para apoio à tomada de decisões rápidas e eficazes. Os aparelhos são produzidos na Coreia do Sul e integrados num programa de formação técnica para quadros moçambicanos.
A iniciativa está a ser executada em colaboração com o Busan TechnoPark, centro tecnológico sul-coreano, e prevê a criação de um centro de excelência no seio do Ministério dos Transportes e Comunicações, dedicado exclusivamente à utilização de drones e sistemas de processamento de dados aplicados à gestão de cheias.
Segundo o BAD, o projecto enquadra-se na estratégia de melhoria da qualidade de vida das populações africanas, contribuindo para mitigar os impactos das alterações climáticas e promover o desenvolvimento sustentável dos países membros.
“Mais do que uma inovação tecnológica, esta é uma resposta estrutural às vulnerabilidades humanas e económicas provocadas pelos desastres”, afirmou Akpossa Marcelle, representante do BAD.
O financiamento total do projecto piloto ascende a 967 mil dólares norte-americanos, aprovados pelo fundo KOAFEC, com um contributo adicional de 100 mil dólares da Busan TechnoPark.
Impacto regional e visão futura
Espera-se que os resultados deste piloto sirvam de base para um projecto de maior escala, não só em Moçambique, mas também como modelo regional para países vizinhos igualmente expostos a cheias cíclicas.
“Com esta abordagem, Moçambique poderá posicionar-se como líder regional na adopção de tecnologias inovadoras para a gestão climática”, referiu uma fonte ligada à execução do projecto.
Paralelamente, as autoridades moçambicanas anunciaram um Plano de Assistência Humanitária avaliado em 48,9 mil milhões de meticais, destinado a apoiar os deslocados internos afectados por catástrofes naturais e pela violência armada.
Entre Dezembro e Março, Moçambique foi atingido por três ciclones tropicais que causaram 175 mortos. Entre 2019 e 2023, eventos extremos provocaram 1.016 vítimas mortais e afectaram cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
Uma viragem estratégica no combate às alterações climáticas
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Com a introdução de drones e sistemas inteligentes de resposta, Moçambique dá um sinal claro de que a inovação pode – e deve – caminhar lado a lado com a protecção de vidas humanas e o desenvolvimento resiliente. O país posiciona-se, assim, na vanguarda da transformação digital ao serviço da gestão climática em África.
Fonte: O Económico