Crónica
Antigamente, e quando digo antigamente, falo de três livros de autoajuda atrás, diziam-nos que bastava fazer bem o nosso trabalho, manter a humildade, e deixar os resultados falarem por si. Que quem trabalha em silêncio brilha mais do que quem faz barulho, que o universo recompensa a competência.
Pois bem. O universo, aparentemente, perdeu o meu currículo……
Hoje em dia, ser bom já não está a dar. Não chega, ninguém vê, ninguém nota, ninguém te convida para as reuniões “importantes”. E se te convidam, é só para te pedir para tirar apontamentos.
Porque no mercado de trabalho moçambicano, mais concretamente naquele open space onde todos fingem estar ocupadíssimos, o verbo do momento é djimar. E djimar, meus amigos, é uma arte. Não confundam com produtividade, não confundam com competência. Djimar é mais performance do que entrega. É um teatro corporativo, onde todos somos figurantes da nossa própria falta de reconhecimento.
Djimar é andar pelo escritório com cara de quem está a resolver a crise económica nacional, quando na verdade só estás à procura de uma caneta que nem precisas. É pedir a palavra nas reuniões para repetir exactamente o que o fulano anterior já disse, só que com mais convicção e três anglicismos de bónus: alignment, strategy, e follow-up.
Djimar é abrir aquela planilha do Excel às 8h, franzir a testa com tanta força que até a cadeira roda sozinha… e às 16h30, ainda estás lá, no mesmo ficheiro, sem mudar uma única célula. Mas com um ar tão concentrado que o chefe até comenta: “Esse rapaz trabalha com alma.”
Djimar também é outra coisa: fingir que tens trabalho até tarde. Adiar tudo o que podias ter feito durante o dia, só para sair depois do chefe. E se ele ficar até às 18h30, tu ficas até às 19h15. Mesmo que estejas só a ver tutoriais no YouTube de como ser mais produtivo.
É isso. Hoje em dia, no mercado laboral moçambicano, o reconhecimento vai para quem aparece, não para quem entrega. O chefe quer ver movimento, não resultado, quer ver suor, mesmo que seja só do calor.
A triste verdade é essa: o mundo corporativo transformou-se num concurso de popularidade disfarçado de meritocracia. E quem não djima, dança.
Então sim, ser bom em silêncio já não está a dar. É preciso aparecer, é preciso projetar imagem, é preciso falar alto, andar rápido, e usar muitos gráficos coloridos nas apresentações, mesmo que ninguém perceba o que querem dizer.
Mas olha… se deres tudo isso e ainda conseguires entregar com qualidade, aí talvez, só talvez o universo lembre de ti, ou pelo menos, o chefe.
Até lá, força aí. Vai djimando.
Adptado do texto original Marley Macuane