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Apesar do ambiente conturbado gerado pelas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump, a economia global tem demonstrado uma performance acima das previsões iniciais. Dados recentes de economias-chave — como Estados Unidos, China e partes da Europa — revelam uma actividade robusta, alimentada por um “efeito açúcar” temporário e pela esperança de um desfecho menos abrupto nas negociações comerciais internacionais.
Impulso Táctico e Pausa Estratégica
Segundo o banco de investimento Berenberg, a economia industrial vive um “efeito açúcar”, com empresas e consumidores a anteciparem compras para evitar potenciais aumentos de preços com a entrada em vigor das tarifas. Esta movimentação acelerada gerou um impulso táctico temporário, mas ainda eficaz, à actividade económica.
A pausa estratégica de Trump na implementação de novas tarifas e pequenos progressos nos diálogos com a União Europeia ajudaram a melhorar as expectativas de curto prazo — ainda que as negociações com a China permaneçam estagnadas.
“Trump lateja, mas não morde”, comentou Holger Schmieding, economista do Berenberg, aludindo à percepção de que as ameaças tarifárias não se materializam na mesma proporção em que são anunciadas.
Crescimento Moderado, Mas Sólido
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu recentemente em baixa o crescimento global para 2,8% — uma redução de apenas 0,5 pontos percentuais. O número, apesar de modesto, permanece dentro da média da última década e distante dos colapsos registados durante a pandemia de COVID-19 ou a crise financeira de 2008.
O banco Citi confirma a surpresa positiva: o seu índice de surpresas económicas atingiu o valor mais alto em mais de um ano, sinalizando que a economia global está a superar as expectativas mesmo em ambiente de incerteza.
O Custo Da Guerra Tarifária
Contudo, a tensão comercial tem um preço real. Uma análise da Reuters estima que empresas globais já perderam mais de 34 mil milhões de dólares em vendas e custos acrescidos devido às tarifas impostas por Washington. Indústrias automóveis — como Toyota, Porsche, Mercedes-Benz e Volvo — admitem cortes nas previsões de lucros ou mesmo a incapacidade de projectar resultados futuros.
Este impacto é especialmente notório no Japão, onde os EUA representam o principal mercado de exportação, com os automóveis a representarem cerca de 28% das exportações nipónicas.
Ameaça de Reversão: O “Payback”
A antecipação de compras e produção pode gerar uma queda abrupta nas actividades económicas no segundo semestre. Economistas alertam para o risco de um “triplo impacto”: retração na procura, perda do poder de compra das famílias devido à inflação e adiamento de investimentos empresariais. Ainda assim, o adiamento das tarifas suaviza o risco de curto prazo.
“O equilíbrio está agora ligeiramente mais inclinado para o optimismo, embora a incerteza e a volatilidade se mantenham”, assinala Carsten Brzeski, chefe de macro global do ING.
Conclusão
A economia global tem desafiado as previsões mais pessimistas, adaptando-se a um ambiente incerto com agilidade surpreendente. Contudo, esta resiliência poderá revelar-se transitória se a trégua tarifária não se transformar em soluções estruturais. A guerra comercial pode estar em pausa, mas a incerteza continua a contaminar decisões de investimento e comércio internacional.
Fonte: O Económico