Por Alda Almeida
Vivemos a era dos “influenciadores digitais”, uma geração que se destaca não por feitos extraordinários ou valores duradouros, mas muitas vezes por ostentação e estilos de vida financiados por realidades paralelas, como os famigerados “sugar daddies”. filtros e frases recicladas sobre liberdade, empoderamento e “viver o agora”.
Mas, cá entre nós, o que esses influenciadores digitais realmente influenciam?
A palavra influência traz peso. Influenciar é, por definição, provocar mudança no comportamento, autointitulam influenciadores não passam de vitrines ambulantes de marcas, viagens luxuosas, experiências muitas vezes distantes da realidade da maioria que os segue.
Hoje, a maioria prefere a paulada de estar na moda. Mas se esquecem que a vida, implacável como é, também dá suas pauladas. Elas vêm depois, em silêncio, na forma de frustração, de solidão, de vazio. Vêm quando os holofotes se apagam e resta apenas o espelho e a pergunta inevitável, valeu a pena?
Nas redes sociais, a fórmula é quase sempre a mesma, pouca roupa, muito filtro, frases prontas sobre “amor-próprio” e “empoderamento”, enquanto os bastidores revelam outra verdade. Não se fala em trabalho duro, educação, construção de carreira, alias até fala-se, mais uma pequena excepção que nem tem a atenção de massas. Fala-se de “viver o momento”, “curtir a vida” e “não depender de ninguém”, enquanto se depende, sim, de alguém, de alguma aparência.
Será que vale seguir quem não te leva a lugar algum? Quem não te acrescenta nada além de valores vazios?
Mais preocupante ainda não é apenas o conteúdo, é o alcance. São as massas que esses influenciadores conseguem tocar, mover, moldar. É o quanto se segue, se copia, se repete o que eles fazem, como se fosse fórmula de sucesso garantido. Jovens que crescem acreditando que ter milhões de seguidores é mais valioso do que ter caráter. Para muitos, o esforço perdeu o encanto, e o imediatismo virou regra. a exposição do corpo em troca de validação digital é ovacionada como se fosse libertação plena. O mais intrigante, e alarmante, é perceber como a sociedade atual parece se guiar, quase cegamente, por tudo aquilo que pouco ou nada acrescenta.
E, talvez por isso nossa sociedade esteja como está, desconectada de seus valores mais profundos, embriagada pela ilusão do agora e esquecida de que aquilo que reluz nem sempre ilumina. Não se trata aqui de moralismo barato, tampouco de negar o direito de cada um viver como quiser. Trata-se de responsabilidade. Quem tem voz pública tem, sim, a responsabilidade de pensar no que está passando para quem assiste. Afinal, se você se diz influenciador, precisa responder com clareza, influencia o quê?
É preciso, urgentemente, resgatar o verdadeiro significado de influenciar. Ser influência é mover consciências, e não só quadris. É provocar pensamento, não só desejo. É inspirar caminhos, não apenas mostrar onde você está.
Na essência, o papel dos influenciadores digitais deveria ir muito além do entretenimento raso e da estética plastificada. Influenciar é, ou deveria ser, acender luzes na consciência, provocar reflexão, inspirar caminhos possíveis e reais. É entender que quem tem alcance também carrega responsabilidade. Que cada palavra dita, cada imagem publicada, cada “tendência” lançada é, sim, uma semente plantada em milhares, às vezes milhões, de mentes em formação. Um influenciador de verdade não é aquele que apenas é seguido, mas aquele que guia com propósito. Que soma, que desperta, que constrói. Porque influência sem valor é só barulho. E o mundo já anda barulhento demais.