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Saturday, October 11, 2025
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Empresa brasileira combate invisibilidade das favelas em serviços de entrega

Resumo

No Dia Mundial dos Correios, um empreendedor brasileiro da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, destaca a exclusão de 17 milhões de brasileiros sem CEP, afetando o acesso a serviços essenciais. A empresa "Carteiro Amigo" utiliza tecnologia e conhecimento local para garantir entregas na comunidade, dividindo-a em 13 subzonas com entregadores locais. Com 95% dos funcionários provenientes da comunidade, a empresa promove inclusão, diversidade e responsabilidade ambiental. O secretário-geral da ONU elogiou o papel dos serviços postais em levar oportunidades a áreas remotas, sublinhando a importância de um serviço postal forte e sustentável para as comunidades.

Em um mundo onde as compras online são uma realidade cada vez mais presente, muitas pessoas são excluídas por não possuírem um endereço oficialmente registrado. Essa exclusão também tem impacto no recebimento de cartas, documentos, benefícios sociais e entregas em geral.

Nesse 9 de outubro, que marca o Dia Mundial dos Correios, a ONU News conversou com um empreendedor brasileiro que atua para garantir que moradores de locais de difícil acesso, como periferias e favelas, deixem de ser invisibilizados.

Empreendedor social conta como gerencia serviço de correio na favela da Rocinha

17 milhões de brasileiros sem CEP

O diretor executivo da empresa “Carteiro Amigo”, Pedrinho Jr., que nasceu e cresceu na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, descreveu os impactos de estar fora do radar dos serviços de entrega de correspondências.

“Quando você vai pedir um cartão do SUS (Sistema único de Saúde), que aqui no Brasil a gente tem o SUS, como é que você pede se você não tem o endereço? Então você literalmente tem aproximadamente 17 milhões de pessoas no Brasil que simplesmente estão invisibilizadas. Elas literalmente não existem porque elas não têm uma coisa que é muito simples, podemos dizer assim, composta com três letras, que é o CEP. Essa pessoa não tem um endereço”.

Em mensagem para marcar o Dia Mundial, o secretário-geral da ONU homenageou todos aqueles que atuam em serviços de entrega, levando “oportunidades e confiança” para áreas remotas e criando “um mundo ao alcance de todos”. António Guterres destacou a importância de um serviço postal “forte e sustentável” para as comunidades.

Conhecimento dos moradores como pilar do mapeamento

Pedrinho Jr. explicou que a “Carteiro Amigo” surgiu há 25 anos, criada por seus pais. Para mapear a favela da Rocinha a empresa usava um sistema manual de etiquetas coladas nas fachadas das casas, com cores que variavam conforme a zona da comunidade.  Hoje em dia a metodologia inclui tecnologia de geolocalização pelo celular dos moradores.

Uma favela extensa ao longo da encosta do Rio de Janeiro, Brasil. (foto de arquivo)
Unicef/Giacomo Pirozzi

Uma favela extensa ao longo da encosta do Rio de Janeiro, Brasil. (foto de arquivo)

“A gente faz esse zoneamento onde a gente possa de fato encontrar a casa da Dona Maria, que na verdade mora atrás da farmácia do Seu João, no beco um, dois, três. Então a gente, como metodologia, traz também pessoas da comunidade, mas não só da comunidade, das pessoas que moram naquela área em específico”.

Pedrinho Jr. explicou que a Rocinha é a maior favela da América Latina e por isso nem mesmo os moradores sabem transitar por toda a comunidade. Por isso, a estratégia é dividir as entregas em 13 subzonas e designar para cada uma delas entregadores familiarizados com cada área.

Segundo ele, o conhecimento dos moradores é um pilar fundamental para o sucesso do empreendimento, tanto que eles representam 95% do quadro de funcionários. A empresa também tem como missão promover a inclusão e a diversidade.

Inclusão, diversidade e responsabilidade ambiental

“A gente sempre teve essa questão de contratar pessoas da própria comunidade e gerar emprego e renda dentro das comunidades. E ao longo do tempo a gente viu que isso não era o suficiente, podemos dizer assim. Isso era uma iniciativa boa. Isso é algo que toda empresa deveria fazer, que é essa questão do social. Mas a gente poderia fazer mais. E como a gente poderia fazer mais? Hoje, em torno de 60% das lideranças aqui no Carteiro Amigo são femininas. Então a gente também entende que o empoderamento feminino ele é sim uma algo que a gente deveria levantar e a gente tem feito isso”.

Pedrinho Jr. destacou ainda que 80% da equipe é composta por pessoas negras e que não existem barreiras para a população Lgbtqia+, que também compõe o quadro de funcionários.

O empresário revelou que a preocupação com o meio ambiente é uma prioridade e 45% das entregas são feitas em veículos elétricos. Para as demais, a empresa faz a compensação do carbono emitido, para atingir a neutralidade.

O CEO do Carteiro Amigo, Carlos Pedro Jr.
Divulgação/Carteiro Amigo

O CEO do Carteiro Amigo, Carlos Pedro Jr.

“Ponte para levar dignidade”

A equipe conta com 35 funcionários internos e uma rede de 800 entregadores, que atuam em todas as favelas do Rio de Janeiro. Nas comunidades da Rocinha, Cidade de Deus e Rio das Pedras, já existem bases onde as entregas são recebidas e depois redirecionadas para o endereço real de cada morador cadastrado no serviço.

Pedrinho Jr. revelou que pretende iniciar um sistema de franquias para que empreendedores das favelas possam se juntar com investidores para expandir o modelo em mais comunidades.

Ele acredita que o impacto social da iniciativa vai muito além de garantir acesso a um serviço básico, representa também um esforço para reduzir desigualdades e uma “ponte para levar dignidade a milhões de brasileiros”. 

 

*Felipe de Carvalho é redator da ONU News

Fonte: ONU

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