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Entre a sobrevivência e desordem: Caos toma conta do Mercado Municipal de Vilankulo

[ai_summary timestamp=”19/10/2025 às 22:00″ summary=”O Mercado Municipal de Vilankulo, em Moçambique, outrora um centro de negócios movimentado, enfrenta agora desordem urbana. Vendedores, condutores e clientes disputam espaço, transformando o mercado num caos. Tentativas de reorganização falharam, levando alguns comerciantes de volta às ruas devido à falta de visibilidade e clientela no interior do mercado. O Conselho Municipal tentou realocar vendedores para um novo espaço, mas este encontra-se praticamente vazio devido à falta de visibilidade. Comerciantes como José Huo e Nilza Matsinhe preferem vender na rua, onde conseguem atrair mais clientes. A promessa de infraestruturas adequadas por parte da edilidade ainda não se concretizou, deixando os comerciantes à mercê da desorganização.”]
O coração económico de Vilankulo, a cidade que há muito se impõe como um dos rostos mais vibrantes do turismo em Moçambique, está a perder o brilho sob o peso do desordenamento urbano. 

O Mercado Municipal – um dos espaços mais antigos e movimentados do distrito – tornou-se um espelho da confusão que caracteriza grande parte da actividade comercial local. 

O que deveria ser um centro de negócios estruturado, seguro e limpo, é hoje um palco de disputas diárias entre vendedores, condutores e clientes que lutam, literalmente, por espaço.

Logo à entrada, o cenário é revelador: viaturas a buzinar sem cessar, bancas improvisadas a ocupar as bermas das estradas, crianças a correr entre carrinhos de mão e mulheres que equilibram tabuleiros de peixe fresco por entre o trânsito. 

A cada passo, um obstáculo. O cheiro de peixe cru mistura-se com o fumo dos grelhadores improvisados e o pó vermelho que o vento levanta sem piedade. A confusão é tanta que, por vezes, é difícil perceber onde termina o mercado e começa a estrada.

“Estou a tentar lutar para conseguir dinheiro e me sustentar, por isso vendo aqui nesta carinha, porque não tenho banca”, conta José Huo, um vendedor que encontrou na rua a única forma de garantir o sustento da família. 

Sentado à sombra de uma lona velha, ele ajeita com cuidado as frutas que vende à beira da estrada e admite que, mesmo sob risco, não tem alternativa. “Ali dentro não há movimento, as pessoas não entram. Aqui pelo menos vendo alguma coisa.”

Outros comerciantes, porém, reconhecem que estão nas ruas por opção. Alegam que o interior do mercado não oferece visibilidade nem clientela. 

“As bancas e este negócio de peixe não combinam. Nós queremos um lugar onde as pessoas, mesmo de carro, possam parar e apreciar o peixe”, diz Nilza Matsinhe, que há anos comercializa marisco fresco em Vilankulo. 

“Ali dentro não há ar, não há movimento, as pessoas nem chegam a ver o produto”, reforça, enquanto aponta para a fila de carros que passam lentamente junto à sua banca.

Há cerca de dois meses, o Conselho Municipal de Vilankulo tentou reorganizar o comércio informal. Mandou retirar dezenas de vendedores das ruas e realocou-os para um espaço reservado dentro do mercado. 

A medida, anunciada como uma tentativa de devolver ordem e limpeza à cidade, acabou por fracassar. O espaço destinado ao novo mercado, hoje praticamente deserto, é o retrato da frustração. 

“Ali é pequeno, tem sombra sim, não queimamos com o sol, mas por causa das bancas de pedra que estão ao redor, as pessoas passam e não nos veem”, explica Luísa António, uma das comerciantes que regressou à rua apenas duas semanas depois da mudança.

Maria Nhamue, vendedora de hortícolas, também desistiu. “Vimos que os clientes não entram para comprar connosco, por isso decidimos sair e ficar aqui fora. Dentro do mercado, passávamos o dia sem vender nada. Aqui fora, pelo menos conseguimos levar alguma coisa para casa.”

 

EDILIDADE PROMETE INFRA-ESTRUTURAS ADEQUADAS

O edil da Vila de Vilankulo, Quinito Vilankulo, reconhece a gravidade da situação, mas justifica que a resolução definitiva ainda depende da construção de infraestruturas adequadas. 

“Neste momento, o sector da urbanização está a finalizar o projecto e já temos garantias financeiras para a sua execução. Assim que o processo estiver concluído, lançaremos o concurso público para a construção dos alpendres. Isso permitirá que as vendedoras de mariscos e de verduras regressem ao interior do mercado, libertando as ruas”, assegura o edil.

Quinito Vilankulo admite, no entanto, que a espera tem sido longa. Os vendedores, cansados de promessas, mostram-se céticos. “Já ouvimos isso muitas vezes”, diz um comerciante que prefere não se identificar. “Sempre falam que vão construir, que vai mudar, mas nós continuamos aqui, no sol, na chuva, na poeira.”

Enquanto a promessa não sai do papel, o comércio continua a crescer desordenadamente. Em várias esquinas, o espaço público foi completamente tomado por bancas improvisadas. Os passeios desapareceram e o trânsito é um caos diário. 

Condutores, mototaxistas e peões disputam espaço com sacos de farinha, baldes de peixe e caixas de tomate. “Aqui é um perigo. As pessoas vendem no meio da estrada. Qualquer dia acontece uma tragédia”, alerta um motorista de chapa que circula pela zona.

A desorganização é visível e o problema não se resume apenas à estética urbana – envolve riscos reais. A acumulação de lixo, o congestionamento e a falta de condições sanitárias adequadas aumentam as preocupações com a saúde pública. O cheiro de resíduos e a ausência de um sistema de recolha regular fazem do mercado um foco potencial de doenças.

 

POLÍCIA MUNICIPAL QUER MAIS COLABORAÇÃO

A Polícia Municipal tenta intervir, mas nem sempre é bem recebida. “Queremos apelar para que haja respeito pela edilidade. A Polícia Municipal está lá para garantir a melhor organização neste período em que estamos a tolerar as vendas nas vias públicas. 

Não deve haver confronto entre a polícia e as vendedoras”, defende o edil, reconhecendo que os confrontos já se tornaram frequentes.

Para os comerciantes, no entanto, a presença policial é muitas vezes sinónimo de perseguição. “Eles chegam e mandam-nos sair, às vezes de forma agressiva. Só queremos vender, não estamos a roubar ninguém”, desabafa uma vendedora que diz ter visto os seus produtos confiscados.

Até que a promessa de requalificação se concretize, o maior mercado municipal de Vilankulo continuará a funcionar entre buzinas, vozes e o cheiro intenso do peixe ao sol. 

Fonte: O País

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