Para muitos moradores, o chão está a desaparecer lentamente e traz consigo a segurança das suas famílias.
“Vivemos com medo constante de acordar e ver a casa engolida pela terra”, relata Cristina Machanguana, moradora da zona. Sublinhando que “a cada chuva, ouvimos as paredes a estalar. As crianças não dormem e nós também não”.
Hilário Manuel, também residente, conta que o problema vem crescendo ao longo dos anos sem qualquer resposta concreta:
“Já alertamos várias vezes. O que vemos são pequenas visitas e promessas. Mas, os desníveis só crescem todos os dias, agravando a situação.”
A capital do país entra em contagem decrescente para o início da época chuvosa e com ela, os riscos de desabamento agravam-se. Para muitos residentes, trata-se de uma questão de tempo até que se registem perdas irreversíveis.
“Estamos preocupados. A terra já começou a ceder em alguns pontos. A próxima chuva forte pode levar tudo”, alerta Zeferino Chicuca, munícipe da zona. “Há locais onde já caíram algumas paredes, isso pode acontecer com uma casa inteira”, aponta o munícipe.
A erosão não só ameaça estruturas. Cria também ambientes perigosos para as crianças. Desníveis profundos tornaram-se terreno de brincadeiras, onde a inocência das crianças se mistura com risco de vida.
“Já houve tragédia, há crianças que morreram lá. Mas continuam a brincar porque não têm outro espaço”, explica uma moradora que prefere o anonimato.
A equipa de reportagem do “O País” constatou que, os desníveis causados pelo fenómeno servem como depósito informal de lixo, agravando ainda mais o estado do solo e a saúde pública.
A ausência de acções inclusivas imediatas do Governo reforça a sensação de abandono por parte do Estado, relatada pelos afectados.
“Parece que só vão agir quando alguém morrer”, lamenta a moradora em anonimato, sublinhando que “as casas mais frágeis, feitas de blocos de cimento sem fundações, estão por um fio.”
Enquanto alguns moradores pedem apoio em reassentamento, outros referem que barreiras robustas podem resolver o problema.
“Nós não queremos sair, queremos soluções, pois essas barreiras com sacos ajudaram, mas são paliativos. Precisamos de obras sérias”, reforça Hilário Manuel.
Cristina apela ao reassentamento das famílias em causa.
A reportagem do “O País” tentou, sem sucesso, obter uma reação oficial do Conselho Municipal de Maputo sobre o assunto.
No entanto, os moradores garantem que equipas técnicas da edilidade já visitaram o local e prometeram um plano de reassentamento, mas até ao momento, nenhuma data foi avançada, nem locais definidos.
Fonte: O País