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Thursday, November 6, 2025
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Exposição celebra 40 anos da primeira longa-metragem moçambicana

Resumo

O Cine-Teatro Scala em Moçambique acolhe uma exposição em homenagem às equipas moçambicana e jugoslava por trás do filme "Tempo dos Leopardos", considerado o primeiro filme de ficção do Moçambique independente. A mostra destaca os desafios enfrentados durante a produção, como a guerra civil e as limitações materiais, com testemunhos que revelam situações surreais, como caçar atores brancos para papéis de soldados portugueses. A exposição, integrada nos Encontros do Património Audiovisual, inclui uma videoinstalação com arquivos jugoslavos, um memorial fotográfico e um projeto de história oral. A iniciativa pretende homenagear as pessoas envolvidas na realização do filme, destacando a importância do cinema como um ato de fé em meio ao caos. A exposição estará aberta ao público durante todo o mês de Novembro.

Quatro décadas após a estreia de “Tempo dos Leopardos”, considerada a primeira longa-metragem de ficção do Moçambique independente, o Cine-Teatro Scala acolhe uma mostra que homenageia as equipas moçambicana e jugoslava por detrás da obra.

A exposição, integrada nos Encontros do Património Audiovisual, divide-se em três núcleos: uma videoinstalação com arquivos jugoslavos filmados em Cabo Delgado em 1967, um memorial fotográfico aos membros da produção e uma amostra de um projeto de história oral que regista depoimentos de pioneiros do sector.

“Esta não é uma homenagem ao filme, que a merece, mas sim às pessoas que o tornaram realidade, muitas delas já falecidas”, explicou Diana Manhiça, curadora da iniciativa, durante a abertura.

Os testemunhos recolhidos revelam os enormes desafios logísticos e políticos da produção, realizada em pleno período de guerra civil e com severas limitações materiais.

Paula Ferreira, então directora de produção, descreveu situações que beiraram o surreal, como a necessidade de “caçar actores brancos no trânsito de Maputo” para papéis de soldados portugueses, negociar com a Força Aérea para obter helicópteros ou gerir uma “greve de fome” dos actores, cansados de uma dieta repetitiva à base de carne de peru.

“Foi a tarefa mais difícil da minha vida e talvez a mais importante. Porque no meio do caos, fizemos cinema. E isso, naquela altura, era um acto de fé”, afirmou Ferreira.

Para Valente Dimande, operador de som e actor no filme, a memória mais vívida é a de filmar cenas de guerra enquanto a guerra real decorria. “Os Migs (aviões de combate) bombardeavam e o realizador dizia: ‘Isso é um boom natural, Continuem a filmar”, recordou.

A actriz principal, Ana Magaia, revelou que a sua escalação para o papel enfrentou resistência de sectores políticos que a consideravam “não politicamente correcta” para o cargo.

“O realizador ficou em pé, porque achava que tinha que ser eu, mas, sobretudo, graças a um naipe de colegas que fizeram parte da equipa técnica, que também achavam que eu devia fazer aquele papel”, contou Magaia, salientando que a exposição funciona como um acto de “justiça” para com essas memórias.

O cineasta Licínio de Azevedo, coautor do argumento original, explicou que o projecto nasceu de meses de recolha de testemunhos no Planalto de Mueda, que deram origem ao livro “Relatos do Povo Armado”.

O guião, inicialmente intitulado “A Madrugada dos Embondeiros”, sofreu alterações profundas durante uma estadia na Jugoslávia para trabalhar com argumentistas locais, resultando no filme que hoje se conhece.

A exposição no Cinema Scala inclui ainda imagens digitalizadas do arquivo jugoslavo Filmske Novosti, representado por Mila Turajlic, que falou do simbolismo de “devolver” a Moçambique esse material histórico.

A mostra permanecerá aberta ao público durante todo o mês de Novembro, servindo como um arquivo vivo de um período fundacional da cultura moçambicana.

Fonte: O País

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