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Face ao aumento do endividamento público, à desaceleração económica e à crescente incerteza global, o Fundo Monetário Internacional insta os países a adoptarem uma disciplina fiscal mais robusta, capaz de enfrentar os choques externos, as pressões de despesa permanentes e o encarecimento do financiamento. A mensagem-chave é clara: é tempo de consolidar com responsabilidade, reformar com urgência e proteger os mais vulneráveis.
Num texto assinado por Era Dabla-Norris, Vítor Gaspar e Marcos Poplawski-Ribeiro, altos quadros do FMI, a instituição alerta para o agravamento da situação fiscal global, com a dívida pública mundial a caminho de ultrapassar os 95% do PIB em 2025. Os autores advertem que, caso se materializem cenários adversos, como uma desaceleração mais acentuada ou o agravamento das tensões geoeconómicas, a dívida poderá escalar para 117% do PIB até 2027 — o nível mais alto desde a II Guerra Mundial.
“A trajectória ascendente da dívida é impulsionada por tarifas crescentes, aumento das despesas permanentes (como a defesa), crescimento lento e custos de financiamento mais elevados”, escrevem os autores, sublinhando que a margem orçamental está sob pressão em praticamente todas as economias.
Impactos no sector real: dívida e crescimento em rota de colisão
A principal preocupação do FMI prende-se com os efeitos cumulativos que o aumento da dívida e o encarecimento do financiamento terão sobre o crescimento real, especialmente nos países em desenvolvimento.
“As condições financeiras mais apertadas e voláteis nos EUA estão a gerar efeitos de contágio sobre os mercados emergentes, levando a custos de financiamento mais altos e a maior volatilidade nos preços das matérias-primas”, observam Dabla-Norris, Gaspar e Poplawski-Ribeiro.
O risco para o sector real da economia é duplo: por um lado, menos espaço para investimentos públicos essenciais (como infraestruturas e programas sociais); por outro, pressão adicional sobre empresas vulneráveis a choques comerciais, sobretudo em contextos de baixa formalização e frágil acesso ao crédito.
Soluções propostas: prudência, foco no crescimento e justiça fiscal
O texto propõe uma abordagem diferenciada, adaptada à realidade fiscal de cada país:
“A política fiscal deve dar prioridade à redução da dívida pública e ao reforço de almofadas orçamentais, mas sem comprometer o crescimento”, alertam os autores, defendendo uma calibragem cuidadosa entre consolidação e investimento produtivo.
Um apelo à acção responsável num mundo em transição
Para o FMI, o momento exige mais do que contenção: exige credibilidade, justiça e resiliência. A instituição defende que a confiança pública é o activo mais valioso para qualquer estratégia fiscal sustentável.
“Os governos devem centrar-se na construção de confiança, numa tributação justa e numa gestão prudente dos recursos”, concluem os autores.
A mensagem é inequívoca: num mundo marcado por choques simultâneos — geopolíticos, climáticos, demográficos e económicos —, a estabilidade fiscal deixou de ser apenas uma meta técnica para se tornar numa condição política de sobrevivência e progresso.
Fonte: O Económico