A Directora-Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, declarou que o crescimento económico global está a ser penalizado pelas novas tensões comerciais, tarifas e incertezas no sistema multilateral, desencadeadas sobretudo pelos Estados Unidos. Apesar da deterioração do cenário, Georgieva afastou, para já, o risco de recessão global, defendendo que os fundamentos da economia real permanecem robustos.
Num discurso proferido em antecipação às Reuniões da Primavera do FMI e do Banco Mundial, Georgieva afirmou que as novas tarifas impostas pelos EUA — incluindo uma taxa de 10% sobre produtos de todos os países e tarifas mais elevadas sobre países específicos —, aliadas às medidas de retaliação da China e da União Europeia, estão a desencadear uma reformulação abrupta do sistema de comércio global.
“As perturbações implicam custos (…) as nossas novas projecções de crescimento incluirão reduções notáveis, mas não uma recessão”, sublinhou a responsável do FMI.
A incerteza comercial é agora classificada pelo FMI como “fora do normal”, com efeitos tangíveis nos mercados financeiros. Georgieva apontou os recentes movimentos das curvas de rendimento do Tesouro dos EUA como sinais de alerta para possíveis pressões no sistema financeiro internacional.
Apesar do crescimento previsto de 3,3% para 2025 e 2026, o FMI deverá rever em baixa essas estimativas na actualização do World Economic Outlook prevista para 22 de Abril.
“Uma coisa que aprendi durante os períodos de crise é que as percepções são tão importantes como a realidade”, disse Georgieva. “Se as percepções mudarem negativamente, isso pode ser bastante prejudicial para o desempenho da economia”.
Os impactos da nova política comercial norte-americana não se limitam às previsões. Segundo Georgieva, os consumidores e os importadores acabam por pagar os custos das tarifas, quer através do aumento dos preços, quer através da compressão das margens de lucro.
“O proteccionismo corrói a produtividade a longo prazo, especialmente nas economias mais pequenas”, alertou, frisando que medidas proteccionistas também penalizam o empreendedorismo e a inovação.
A líder do FMI exortou os países a manterem políticas monetárias ágeis e credíveis, ao mesmo tempo que prosseguem reformas estruturais e fortalecem a supervisão financeira. Para as economias emergentes, destacou a importância de preservar a flexibilidade cambial, e para os países doadores, apelou à manutenção dos fluxos de ajuda aos países de baixo rendimento.
“Precisamos de uma economia mundial mais resistente e não de uma tendência para a divisão”, concluiu Georgieva. “Todos os países, grandes e pequenos, podem e devem desempenhar o seu papel para reforçar a economia mundial numa era de choques mais frequentes e graves.”
Fonte: O Económico