O Grupo dos Sete (G7) terminou a sua mais recente reunião de ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais com um comunicado que evita confrontos directos sobre tarifas proteccionistas, em particular as impostas pelos Estados Unidos, e reforça o compromisso de reduzir os desequilíbrios excessivos na economia global. O documento final ignora as tensões comerciais latentes, mas alerta para os riscos das “práticas não mercantis” e promete agir em conjunto para garantir a segurança económica internacional.
A ausência de referências explícitas às tarifas de 25% impostas pelos EUA sobre bens como aço e alumínio — uma questão sensível para parceiros como o Canadá — marcou o tom da cimeira, que se manteve prudente e diplomática. O Ministro das Finanças canadiano, François-Philippe Champagne, minimizou a omissão, mas reconheceu que o tema foi abordado e continua a afectar o comércio e as cadeias de abastecimento.
“Estamos a tentar aumentar o crescimento e a estabilidade. E, obviamente, as tarifas são algo nesse contexto que não se pode evitar discutir”, afirmou Champagne.
Pressões Geopolíticas e Apostas Cautelosas
Embora o encontro tenha sido descrito como “construtivo” e “flexível”, a tensão em torno da posição dos EUA foi perceptível. O Secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, manteve um perfil discreto, não fez conferência de imprensa e limitou-se a interações pontuais com os media, contrastando com o habitual protagonismo dos EUA nestes fóruns.
Apesar da postura contida, o G7 reafirmou o compromisso de manter congelados os activos soberanos da Rússia e explorar novas sanções caso a guerra na Ucrânia se prolongue. No entanto, a linguagem sobre o conflito foi atenuada em comparação com comunicados anteriores, omitindo termos como “guerra de agressão ilegal”, o que evidencia um abrandamento retórico — interpretado como reflexo da nova configuração política dos EUA sob Trump.
Referências Veladas à China e Comércio Digital
O documento também menciona a necessidade de combater práticas comerciais “não mercantis”, sem nomear a China, mas aludindo claramente aos subsídios estatais, ao modelo de exportações agressivas e ao uso da isenção aduaneira para pacotes de valor inferior a 800 dólares, frequentemente explorada por plataformas como Shein e Temu.
A proliferação dessas remessas “de minimis” preocupa os países do G7, tanto do ponto de vista fiscal como de segurança, por facilitarem evasão de impostos e contrabando.
Combate aos Desequilíbrios e Fragilidade do Multilateralismo
A cimeira também abordou a necessidade de reforçar a resiliência das cadeias de abastecimento e melhorar a concentração de mercado em sectores críticos. Contudo, a ausência de compromissos vinculativos ou metas concretas expõe os limites da actual coordenação multilateral num momento de ascensão de políticas económicas unilaterais.
“Tivemos a sensação de que se tratava de uma discussão entre amigos e aliados”, disse um funcionário francês, enfatizando o clima diplomático da reunião, apesar das divergências substantivas.
A reunião do G7 em Banff deixou claro que, embora as democracias industriais do mundo estejam unidas no discurso de estabilidade e crescimento partilhado, continuam divididas na acção concreta. A relutância em confrontar frontalmente os Estados Unidos sobre tarifas e a linguagem suavizada em relação à Rússia e à China revelam um equilíbrio delicado entre geopolítica, diplomacia económica e pragmatismo eleitoral.
Num mundo em reconfiguração, o G7 mantém a coesão — mas à custa de profundidade e contundência.
Fonte: O Económico