Questões-Chave:
A retoma do megaprojecto Mozambique LNG, liderado pela TotalEnergies, poderá marcar um ponto de inflexão na trajectória económica de Moçambique. Quatro anos depois da suspensão por razões de segurança, a combinação entre estabilidade em Cabo Delgado, pressão governamental e novo impulso logístico e institucional reacende a esperança de que o gás natural se torne num verdadeiro motor de desenvolvimento.
O anúncio da retoma iminente do projecto Mozambique LNG em Afungi, província de Cabo Delgado, feito pelo CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, após encontro com o Presidente Daniel Chapo, agitou os círculos económicos nacionais e internacionais. Avaliado em mais de 20 mil milhões de dólares americanos, este é o maior investimento privado em África e, desde 2021, encontrava-se suspenso sob a cláusula de “força maior”, após os ataques terroristas em Palma.
A decisão de retomar o projecto surge num contexto transformado: a situação de segurança na área melhorou significativamente, com presença reforçada das forças moçambicanas e do Ruanda. Para além disso, o Governo tem assumido um papel mais activo na criação de condições políticas e logísticas que visem convencer os investidores a regressar.
“Quem invocou a força maior foi a TotalEnergies, não o Governo. E é da responsabilidade da TotalEnergies fazer o levantamento”, frisou Daniel Chapo, reiterando a importância de clarificar responsabilidades num momento em que o país aguarda por um gesto decisivo da petrolífera francesa.
O Governo de Moçambique aguarda, com expectativa, a assinatura de um plano actualizado de desenvolvimento, adaptado aos custos e desafios pós-2021. O acordo deverá prever ajustes no calendário, revisão de investimentos e novos compromissos com fornecedores locais e conteúdo nacional. Só com esse plano é que será possível avançar com a retoma efectiva.
Coral Sul: A Primeira Onda
Enquanto o Mozambique LNG aguarda luz verde, o Coral Sul FLNG, liderado pela Eni, já opera com resultados concretos. A unidade flutuante, ancorada ao largo de Cabo Delgado, já exportou 128 carregamentos (112 de GNL e 16 de condensado) desde o primeiro embarque em Novembro de 2022, e injectou 210 milhões USD em receitas fiscais ao Estado moçambicano até Junho de 2025.
Além disso, o Coral Sul destaca-se pela robustez do seu conteúdo local:
A administração da Eni partilhou ainda dados ilustrativos sobre a plataforma flutuante, que opera com tecnologia de ponta, capacidade instalada de 3,4 milhões de toneladas/ano, e produz a sua própria energia com geradores híbridos de gás e diesel (120 MW).
Coral Norte: Segunda Geração com Visão Estratégica
A construção da segunda plataforma flutuante – Coral Norte – já foi iniciada e representa o próximo grande salto na consolidação do sector de GNL em Moçambique. Avaliado em 7,2 mil milhões USD, este novo projecto, também liderado pela Eni, terá início de produção em 2028 e contará com:
“O plano de desenvolvimento da Coral Norte é muito mais vantajoso que o da Coral Sul. Pode impulsionar a industrialização de Moçambique”, garantiu a administração Chapo.
O envolvimento da CFM Logistics e da EMODRAGA no processo logístico e de dragagem do projecto também aponta para uma abordagem mais integrada, que procura maximizar os ganhos locais e promover o surgimento de um verdadeiro ecossistema industrial em torno do gás.
A Retoma Como Janela de Oportunidade
A retoma da TotalEnergies deverá destravar um pipeline de financiamento robusto: 13 mil milhões USD já garantidos (incluindo 4,7 mil milhões do US Exim Bank) e 7 mil milhões adicionais em negociação com bancos europeus e asiáticos.
Mas o valor mais estratégico reside no impacto multiplicador do investimento:
Desafios Pendentes
Contudo, o sucesso do relançamento depende de vários factores:
O gás natural volta a ser, mais do que nunca, o epicentro da esperança económica moçambicana. A retoma da TotalEnergies poderá representar não apenas a reactivação de um projecto, mas o relançamento de uma visão: Moçambique como país produtor, transformador e distribuidor de energia, com capacidade de gerar riqueza, empregos e dignidade a partir dos seus próprios recursos. Resta saber se o país saberá transformar esta janela de oportunidade num novo ciclo de crescimento inclusivo, sustentável e soberano.
Fonte: O Económico