O internacional moçambicano Geny Catamo foi uma das figuras de destaque na conquista do título de bicampeão nacional de Portugal pelo Sporting, facto que o colocou em altas parangonas na imprensa desportiva portuguesa, como é o caso de uma extensa entrevista concedida ao jornal O Jogo. Com a devida vénia, o LanceMZ reproduz aqui esta entrevista conduzida pelos jornalistas Sérgio André e Nuno Vieira Rodrigues, na qual o ala moçambicano abre o seu coração, fala do que esteve por detrás da conquista do título, aborda os golos que marcou ao Benfica, demonstra a ambição dos leões em fazerem a dobradinha e fala da sua situação contratual com o Sporting Clube de Portugal, colectividade que aprendeu a amar.
EXTRAÍDO DO JORNAL “O JOGO”
Geny Catamo chegou ao Sporting em 2019, mas foi em 2021, como nos contou, que realmente se apaixonou de forma irreversível pelo clube de Alvalade. Ainda que esteja preocupado com as negociações entre o Amora e o Sporting pelo seu passe, o internacional por Moçambique garantiu que está focado em seguir a sua carreira de leão ao peito.
O camisola 21 confessou o seu amor pelo clube verde e branco, e admitiu que, ainda que a saída de Amorim tenha causado alguma apreensão entre o plantel, Rui Borges foi capaz de “agarrar” o grupo.
O Sporting detém apenas 25% do seu passe, o Amora possui os restantes 75%. Esta situação preocupa-o?
— Por um lado, preocupa-me, mas também não me posso distrair do foco que tenho na minha vida profissional e pessoal, deixo para os meus representantes e para o Sporting a resolução dessa situação.
Tem contrato até 2028 com o Sporting, quer ficar no clube para lá desse ano?
—Não depende só da minha vontade, mas, por mim, ficava.
O que faltou ao Sporting para chegar mais longe na Liga dos Campeões?
— Os transtornos que aconteceram esta época abalaram-nos psicologicamente, não vou negar, mas a união levou-nos ao sucesso. Se continuarmos com essa união, e não passarmos pelos mesmos transtornos deste ano, acredito que podemos chegar muito além do que fizemos.
Qual foi o segredo de Rui Borges para conquistar o grupo?
Qual foi o segredo de Rui Borges para conquistar o grupo?
— Para ser sincero, não prestei atenção a esse assunto, não estive muito atento a isso.
Foi uma das grandes apostas de Rúben Amorim na época passada, sentiu a falta do apoio de um treinador que colocou tanta confiança em si?
— Quando ele foi embora, isso abalou toda a gente. No meu caso, chorei muito, no momento da despedida, mas não só. Fiquei abalado durante algum tempo, como a maioria do grupo ficou, porque ele foi um pai para nós durante muito tempo. Eu estou no Sporting há seis anos, nos últimos quatro anos e meio ele esteve sempre comigo, foi um pai para mim, foi muito doloroso para todos nós, porque não estávamos à espera [da saída], mas a vida é assim, o futebol também é assim, tivemos de seguir os nossos próprios caminhos.
Quais foram os jogadores mais importantes para incutir uma mentalidade vencedora?
— O nosso capitão, o Morten [Hjulmand]. Todos ajudámos, mas o Morten foi mesmo fundamental. Ficámos sem o Seba [Coates], era ele que nos indicava o caminho.
Ficaram surpreendidos com a capacidade de liderança de Hjulmand?
— Não, na época passada ele já tinha essa capacidade de capitão, puxava por nós, tomava a palavra, mas, este ano, ele foi excelente. Ele foi muito importante para seguirmos no caminho do título.
O presidente Frederico Varandas disse que Hjulmand chegou a jogar lesionado, isso inspirou-vos?
— Demasiado. Ver o nosso capitão, que nos defende, tão focado, ajudou-nos. Olhámos para ele sentimos na pele que ele queria mesmo [o título], tivemos que colocar isso na cabeça e seguir no mesmo barco. Foi muito importante para meter na nossa cabeça que o campeonato estava à nossa frente, e que não o podAíamos deixar escapar.
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“Sinto orgulho do meu percurso”
Geny Catamo é, por estes dias, uma das principais figuras da seleção de Moçambique, com 10 golos marcados em 34 jogos pelos mambas, aos 24 anos de idade.
A paixão pelo país é uma das forças motivadoras do jogador do Sporting, que sonha com títulos no futuro de Moçambique.
O presidente de Moçambique [Daniel Chapo] disse que era um exemplo para os jovens do país, isto aumenta a sua responsabilidade?
—Sim, desde que comecei a representar o Sporting, fiquei com um estatuto mais elevado no meu país, porque isso começou a dar mais credibilidade aos sonhos dos miúdos. Eles olham para mim como uma inspiração, fico lisonjeado. Sinto-me muito orgulhoso pelo meu caminho até agora, ainda mais por ver que o meu país sente ainda mais essa paixão.
O seu exemplo pode ajudar a abrir a porta da Europa a outros jovens de Moçambique?
—Sim, porque eles começam a acreditar nos sonhos, e não deixam de acreditar que são capazes. Eu sonhei muito em ser campeão pelo Sporting, e hoje sou campeão. É incrível, mas não paro de sonhar, vou atrás dos meus sonhos. É o que estou a tentar transmitir aos jovens, que não podem deixar de sonhar com aquilo que mais querem.
Sente saudades da comida moçambicana?
—Sim, sim.
Como faz para matar as saudades?
—Peço à minha mulher para fazer em casa, quando bate a saudade.
Tem algum prato favorito?
—Feijoada moçambicana, caril de amendoim e matapa.
Fonte: Lance