A história de Teresa Avelino, recém-graduada do curso de Saúde Materno-Infantil, é um reflexo desse percurso difícil. Entre lágrimas e um sorriso de vitória, Teresa recorda os momentos mais desafiadores. “Houve noites em que não dormíamos, tínhamos trabalhos, muitas vezes intensos, que tinham de ser entregues a tempo e hora. Houve momentos em que tivemos de nos deslocar de um campo para outro, e até mudar de província para conseguir estagiar. Tudo isso exigia custos financeiros que nem sempre tínhamos como suportar”, contou, sublinhando que a superação desses obstáculos sempre deveria culminar num certificado, documento essencial para prosseguir os sonhos.
Entretanto, como Teresa, muitos outros estudantes enfrentam, agora, uma nova batalha: a inserção no competitivo mercado de trabalho. Vanessa Armando, também formada em Saúde Materno-Infantil, descreve o próximo passo com um misto de esperança e preocupação. “O passo a seguir, depois de ter o certificado, é concorrer para o mercado de emprego, para que possamos ajudar o nosso país, contribuir para melhorar a saúde de todos os moçambicanos”, afirmou.
A morosidade na emissão destes documentos tem sido um tema sensível e, segundo quem acompanha o processo, a responsabilidade não recai apenas sobre a Autoridade Nacional do Ensino Técnico e Profissional (ANEP), mas também sobre as próprias instituições de ensino. Geremias Tivane, presidente do Conselho de Administração do Instituto Politécnico Médio Índico, disse que, no caso daquela instituição, mais de 90% dos estudantes já têm certificados emitidos pela ANEP, mas explicou de forma incisiva que nem tudo depende apenas das autoridades: “Isto depende muito mais da organização interna de cada instituição. A escola tem de preparar as evidências, de modo a que não haja dúvidas sobre os processos pedagógicos realizados. Quando essas evidências estão claras e organizadas, tudo se torna mais fácil”, disse, acrescentando que é preciso “aprimorar os mecanismos internos para garantir que os portfólios mostrem, de forma inequívoca, o percurso de formação de cada estudante”.
Apesar das dificuldades, as autoridades provinciais asseguram que estão a trabalhar para acelerar o processo. De acordo com Almeida Cambula, director do Serviço Provincial para Assuntos Sociais em Inhambane, foram solicitados à ANEP mais de sete mil certificados. “Do total, já recebemos e distribuímos 4200. Ficámos por receber 3496 certificados. Existem ainda 2593 certificados que já foram emitidos, mas que aguardam apenas a recepção para iniciarmos a sua distribuição”, afirmou.
O Governo reconhece a urgência do problema e, no quadro das reformas em curso, anunciou a criação e capacitação de uma equipa multissectorial para reforçar a transparência e a celeridade no processo de validação. Almeida Cambula detalha como será feita esta nova etapa: “Primeiro, deve haver uma verificação interna, feita pelos próprios membros de direcção e formadores de cada instituição. Depois, entra a pré-verificação externa, que será da responsabilidade da equipa multissectorial. Esta equipa vai conferir todas as qualificações, analisar as evidências apresentadas nos portfólios e chegar à conclusão se, de facto, os formandos desenvolveram as competências requeridas em cada módulo”.
A informação foi avançada durante a cerimónia de entrega de certificados a 250 estudantes formados em diversos cursos de Medicina pelo Instituto Médio Politécnico Índico. O evento, que marcou um momento de celebração para alguns, também serviu para lançar luz sobre a realidade de milhares que ainda aguardam o documento que define o seu futuro.
Com mais de três mil estudantes à espera, a emissão de certificados continua a ser um desafio que impacta directamente o ingresso no mercado de trabalho e, consequentemente, o desenvolvimento de sectores estratégicos como a saúde, a indústria e os serviços. A promessa das autoridades é acelerar o processo e garantir que cada estudante formado possa, finalmente, transformar anos de esforço em oportunidades concretas de emprego.
Enquanto isso, histórias como as de Teresa e Vanessa continuam a ecoar como um apelo à eficiência e à responsabilidade institucional. Para quem sonha em vestir a bata branca ou assumir qualquer outra profissão técnica, ter o certificado em mãos não é apenas um direito: é a chave para abrir as portas de um futuro que já custou demasiado caro para ser adiado.
Fonte: O País