Resumo
Mais de metade das mulheres diagnosticadas com cancro da mama em Moçambique faleceram no último ano, destacando a falta de diagnóstico precoce e tratamento especializado. A Primeira-Dama, Gueta Chapo, lançou a campanha Outubro Rosa em Jangamo, Inhambane, para sensibilizar sobre a prevenção do cancro da mama e colo do útero. Com 2.048 casos em 2022, dos quais 1.207 resultaram em morte, Gueta Chapo apelou à ação coletiva para garantir acesso a rastreio e tratamento. Mulheres sobreviventes partilharam experiências, realçando a importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado para vencer a doença.
Foi no distrito de Jangamo, província de Inhambane, que Gueta Chapo deu o pontapé de saída para a campanha Outubro Rosa, uma iniciativa mundial que, todos os anos, mobiliza governos, instituições e comunidades para a prevenção e combate ao cancro da mama e do colo do útero. O ambiente era de esperança e reflexão, com dezenas de mulheres, profissionais de saúde e líderes locais unidos por uma causa comum: salvar vidas.
Durante a cerimónia, a Primeira-Dama foi clara e emotiva: “Estamos aqui hoje com um propósito comum, que é reforçar o nosso compromisso inabalável de garantir que nenhuma mulher perca a vida por falta de acesso ao rastreio, ao diagnóstico precoce e ao tratamento do cancro da mama. Este é um direito fundamental — o direito à saúde, à dignidade e à vida”, afirmou.
Segundo dados divulgados pela própria Gueta Chapo, em 2022 foram registados em Moçambique 2.048 casos de cancro da mama, dos quais 1.207 resultaram em óbitos. “Esses números são graves. São vidas interrompidas. São mães, irmãs e filhas que deixaram famílias em luto por uma doença que, se diagnosticada a tempo, tem cura”, sublinhou.
Em tom firme, a Primeira-Dama lembrou que a luta contra o cancro é uma responsabilidade coletiva, que deve envolver toda a sociedade — desde o setor público até as famílias: “O governo de Moçambique, através do Ministério da Saúde, tem feito esforços significativos na expansão dos serviços de rastreio e diagnóstico precoce, mas esta batalha não pode ser apenas do Estado. Requer uma mobilização nacional e internacional. Precisamos do envolvimento das comunidades, dos profissionais de saúde, dos meios de comunicação e do setor privado”, apelou.
Enquanto as autoridades discursavam, na plateia estavam mulheres que são o verdadeiro rosto desta luta. Histórias de dor e superação davam corpo à mensagem do Outubro Rosa.
Uma delas, de 57 anos, escolheu o anonimato, mas aceitou partilhar o seu testemunho. “A situação começou a agravar-se e comecei a ter corrimentos e sangramentos. Fiz quimioterapia no Hospital Central de Maputo durante seis meses. Agora já me sinto bem, estou muito melhor”, contou, com um sorriso tímido de quem venceu a batalha mais dura da vida.
Outra mulher, de apenas 33 anos, descobriu através de um autoexame que tinha cancro da mama. “O doutor disse-me que precisava tirar toda a mama. Tive muito medo, porque sou a primeira pessoa na família com esta doença. Mas percebi que não havia outra saída senão seguir as recomendações médicas”, relatou.
Hoje, curada, ela reconhece que a sua sobrevivência foi fruto da atenção que teve ao próprio corpo. “Acredito que, se eu não tivesse feito o autoexame, não estaria viva. Quando a doença é descoberta tarde, já não há cura”, afirmou, com a voz embargada, mas cheia de força.
Gueta Chapo, sensibilizada pelos relatos, destacou a importância de dar continuidade às campanhas de sensibilização e de aproximar os serviços de rastreio das comunidades mais distantes. “É vital que todas as mulheres, independentemente da sua origem, da sua cor ou da sua religião, possam fazer o rastreio precocemente. Quando o cancro é detetado cedo, é possível tratá-lo e garantir a cura”, disse, num tom que misturava compaixão e determinação.
A Primeira-Dama elogiou ainda o trabalho dos profissionais de saúde e dos parceiros que apoiam o combate ao cancro. “Quero expressar a minha gratidão ao Ministério da Saúde pelo esforço técnico e humano dedicado a esta causa. E agradeço aos nossos parceiros institucionais, comunitários e internacionais pela solidariedade e compromisso contínuo. Aos líderes comunitários, muito obrigada por levarem a mensagem às nossas comunidades”, afirmou, arrancando aplausos da plateia.
Num discurso que combinou emoção e pragmatismo, Gueta Chapo apelou também aos homens para se envolverem: “Convido os nossos papás a aderirem aos serviços de saúde e a acompanharem as mulheres. Não esperem pelo mês de outubro — todos os dias as nossas unidades sanitárias estão abertas, os nossos profissionais estão lá para atender. A morte não avisa, por isso devemos prevenir”, alertou.
Ao longo da cerimónia, ficou claro que o Outubro Rosa não é apenas uma campanha simbólica, mas um movimento que pretende transformar mentalidades e salvar vidas. Em Moçambique, onde o cancro ainda é um tema rodeado de tabus e medo, falar sobre a doença é, também, um ato de coragem.
No encerramento, a Primeira-Dama deixou uma mensagem que ecoou entre os presentes: “Cuidar da mulher é cuidar do futuro das famílias, das comunidades e do país. Não se trata apenas de saúde, mas de justiça social, de equidade e de desenvolvimento sustentável.”
O evento terminou com centenas de mulheres a inscreverem-se para o rastreio gratuito do cancro da mama e do colo do útero — o primeiro passo de uma jornada que Gueta Chapo quer ver multiplicada por todo o território nacional.
Fonte: O País