Joaquim Bazar defende maior comunicação com os investidores, reforço da literacia financeira e valorização do capital de mercado como caminho para um mercado mais justo, dinâmico e previsível.
Questões-Chave
O comportamento recente das acções da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) na Bolsa de Valores de Moçambique abre espaço para uma reflexão estratégica sobre o papel da comunicação, da literacia financeira e do desenho institucional na evolução do mercado de capitais. Em entrevista ao Semanário Económico, o especialista Joaquim Bazar propõe uma leitura propositiva do cenário: com maior clareza, partilha de informação e capacitação dos investidores, é possível tornar o mercado moçambicano mais transparente, robusto e orientado ao valor.
A HCB tornou-se um marco simbólico do esforço de mobilização de capital através da bolsa. No entanto, a oscilação do seu valor de mercado – de um pico de 5,6 meticais para menos de 4 meticais – levanta questões sobre o funcionamento da bolsa, as expectativas dos investidores e a comunicação das empresas cotadas.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Para o analista financeiro Joaquim Bazar, é fundamental compreender um trinómio muitas vezes mal interpretado: preço, valor e lucro. “O lucro é um indicador importante, mas o valor da empresa e o preço de mercado dependem de factores que vão muito além do resultado financeiro. É necessário compreender e acompanhar o contexto em que esses indicadores se formam”, explica.
Com apenas 7,5% das acções disponíveis no mercado, a HCB é tecnicamente um low float stock, o que reduz a liquidez e amplifica oscilações. “Isso exige uma estratégia mais activa de comunicação com os investidores e uma presença mais consistente no mercado”, defende.
Literacia Financeira Como Pilar Estrutural
Um dos pontos mais enfatizados por Bazar é o papel do investidor. “Temos uma base ainda dominada por pequenos investidores que investem e não acompanham. É urgente promover hábitos de leitura de relatórios, interpretação de indicadores e participação informada.”
A proposta não passa apenas por formações técnicas complexas, mas sim por programas práticos e acessíveis de literacia financeira, combinados com incentivos à utilização dos canais de informação disponibilizados pelas empresas cotadas e pela Bolsa.
HCB: Uma Empresa com Valor a Consolidar
Apesar das flutuações, Bazar reconhece que a HCB mantém fundamentos operacionais sólidos, com lucros consistentes e política de dividendos clara. Contudo, salienta que os dividendos, embora acima do previsto, ainda oferecem retorno inferior à taxa livre de risco, sendo importante alinhar expectativas do investidor com a estratégia da empresa.
“A HCB tem espaço para crescer enquanto marca cotada. Precisa comunicar melhor os seus projectos estratégicos, como a participação em Mphanda Nkuwa, investir em activos intangíveis — capital humano, reputação, inovação — e estar presente de forma mais previsível no mercado”, recomenda.
Propostas para Reforçar a Confiança e a Dinâmica do Mercado
Joaquim Bazar sugere um conjunto de medidas que poderiam contribuir para transformar o actual contexto:
“O preço das acções deve ser resultado da actualização das expectativas futuras, e isso só acontece num ambiente com informação acessível, investidores atentos e empresas comprometidas com a transparência”, sublinha Bazar. O caso da HCB, longe de ser uma falha, pode ser um ponto de partida para repensar a estrutura e o propósito do mercado de capitais em Moçambique. Mais do que oscilações pontuais, trata-se agora de construir um ecossistema robusto, participativo e confiável.
Fonte: O Económico